(Folha de S.Paulo) Em sua coluna semanal, o jornalista Gilberto Dimenstein analisa a estratégia de marketing eleitoral de vincular eleições a figuras do universo familiar – pai, mãe etc. – em relação ao desconhecimento da população sobre o peso dos tributos. Veja a seguir alguns trechos selecionados:
“Um dos traços marcantes desta eleição é Lula apresentar-se como pai e Dilma como mãe, na lógica do acolhimento familiar. Os eleitores, vistos como filhos, são infantilizados, numa jogada de marketing referendada, na prática, pelo PSDB -afinal, Serra guindou o presidente à condição de principal referência da política, tentando grudar-se à sua imagem até na propaganda eleitoral.”
“Uma parte da explicação para essa infantilização da cidadania está numa informação divulgada na semana passada sobre a relação dos brasileiros com os impostos. A maioria dos brasileiros (89%) desconhece quanto paga de impostos. Não imagina o que sai diretamente do seu salário para sustentar os governos. (…) Poucos imaginam que trabalhamos mais de quatro meses todos os anos apenas para pagar impostos.”
“Trazer a lógica familiar para a política significa colocar a criança recebendo a proteção de um pai em vez de um governante atendendo a um cidadão que paga imposto. Se as pessoas tivessem todos os dias na cabeça os quatros meses de trabalho reservados aos governos e os comparassem aos serviços públicos recebidos, a pressão seria fatalmente muito maior.”
“Se prevalecesse a lógica do cidadão que sabe quanto exatamente dói pagar tantos impostos e receber tão pouco, que sabe que o governo não está fazendo favor, o incômodo com o desperdício seria muito maior. E, numa eleição, haveria menos espaço para conversa de papai e mamãe ou titio.”
Acesse na íntegra: Papai Lula, mamãe Dilma, titio Serra, por Gilberto Dimenstein (Folha de S.Paulo – 22/08/2010)
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