Com base em dados das pesquisas de intenção de voto para presidente realizadas pelos institutos Datafolha e Ibope, a imprensa tem abordado os obstáculos e as estratégias das campanhas dos presidenciáveis para conquistar o voto das mulheres. No caso de Dilma Rousseff, a primeira mulher a ter chances reais de ser eleita presidente da República, reportagem da Folha de S.Paulo aponta também a “tradicional resistência do público feminino” a candidaturas do Partido dos Trabalhadores.
A Folha aponta que, nas cinco oportunidades em que concorreu à Presidência, Lula teve um desempenho pior entre as eleitoras. Para a cientista política Teresa Sacchet, da USP, o fato não surpreende, pois o petismo está impregnado pelos movimentos sociais e pelo sindicalismo, nos quais domina a cultura masculina.
A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada em 17/04, (veja quadro abaixo), mostrou Dilma em segundo lugar, com 30% das intenções de voto, contra 42% de José Serra (PSDB). Contudo, se forem consideradas apenas as intenções de voto das mulheres, a diferença fica bem maior: Dilma tem 25% e o tucano, 43%. Já entre os homens, a distância é menor: 35% a 41%.
A cientista política Teresa Sacchet explica essa diferença apontando um fator específico de Dilma: ela ainda é pouco conhecida. “Como as mulheres são menos informadas e como Serra é mais conhecido, é razoável que menos mulheres declarem intenção de votar em Dilma”, afirma a professora.
Desinformação sobre Dilma é maior entre pobres e mulheres
A desinformação sobre Dilma Rousseff é maior entre o eleitorado feminino (apenas 11% dizem conhecê-la bem, enquanto 17% dos homens declaram o mesmo). Além disso, matéria do jornal O Estado de S. Paulo apontou que o desconhecimento sobre Dilma é maior entre os eleitores mais pobres. “Como é esse contingente o que mais aprova o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o PT aposta na associação entre a imagem do presidente e a da pré-candidata para alavancá-la”, diz a reportagem.
Para Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope, essa disparidade está associada ao desinteresse das mulheres, que demoram mais a prestar atenção nos candidatos. Já Mauro Paulino, diretor do Datafolha, discorda sobre o desinteresse das eleitoras e considera que as mulheres tendem a definir o voto depois de refletir mais. Paulino lembra ainda que, graças à sua crescente importância econômica, as mulheres influenciam cada vez mais os eleitores com quem convivem. O que explica as mensagens dirigidas especialmente a elas por candidatos e marqueteiros.
Para André Singer, cientista político da USP e ex-porta voz da Presidência (2003-2007), além da desinformação há um outro aspecto a considerar: um possível conservadorismo das mulheres. “Por razões de ordem socioeconômica, provavelmente o segmento feminino ainda é mais conservador que o masculino, o que é uma constatação clássica da sociologia”, diz Singer.
Na opinião de Marlise Matos, chefe do Departamento de Ciência Política e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais, não é possível dizer que as mulheres são mais conservadoras. Para ela, no caso de Dilma, pesa a imagem da candidata. “A figura da Dilma representa uma dureza, é agressiva. Esse tipo de traço é bem-visto nos homens, mas não nas mulheres. E o público masculino se identifica com essa imagem, mas não o feminino. As eleitoras parecem se identificar mais com traços ligados ao cuidado, à saúde”, diz Marlise.
Campanha procura reverter desvantagem
Nas últimas semanas Dilma Rousseff tem participado de diversos encontros com mulheres e incluído em suas falas comentários sobre a participação política feminina. E o site Mulheres com Dilma divulga na internet as ideias da candidata sobre temas que interessam e tem a ver com a vida das mulheres.
O comitê petista considera que a eleitora é mais desconfiada e define seu voto mais perto das eleições. “Ela é mais cuidadosa, tende a votar na pessoa mais conhecida”, diz o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Assim, uma das estratégias é mostrar a candidata ao lado de outras mulheres, de mulheres simples, mães de família anônimas, ou famosas e bem-sucedidas. Recentemente foi amplamente divulgado na imprensa que Dilma jantou com a apresentadora Ana Maria Braga, da TV Globo, e se encontrou com a ex-prefeita Marta Suplicy; teria também pedido o empenho da primeira-dama Marisa Letícia e anunciado sua ida ao aniversário da economista Maria da Conceição Tavares.
A reportagem da Folha afirma que “talvez o maior desafio da campanha seja amaciar o lado masculino da candidata – a mulher brava, que ralha com subordinados e usa linguajar técnico -, sem fazer desaparecer a competência de ministra, lado que Lula insiste em evidenciar na ‘mãe’ do PAC. A esse respeito, leia também: Lula chama Dilma e pede mudança de discurso na TV (Folha de S.Paulo – 26/04/2010)
Acesse a íntegra dessas matérias:
Dilma potencializa antiga resistência de mulheres ao PT (Folha de S.Paulo – 25/04/2010)
Desinformação do eleitor desafia campanhas (O Estado de S. Paulo – 25/04/2010)
Leia também:
02/05/2010 – O poder das balzaquianas, por Gaudêncio Torquato
24/04/2010 – Dilma quer se lançar candidata a “presidenta”
23/04/2010 – Uma nova investida nos votos femininos
23/04/2010 – PT traça estratégias para aproximar Dilma das eleitoras
22/04/2010 – Eleitorado feminino garante no Ibope vantagem de Serra sobre Dilma
19/04/2010 – Dilma diz que vai conversar com as mulheres usando todas as mídias
13/04/2010 – Marta diz que tem gente que ainda ‘não vota em mulher’
13/04/2010 – Os alvos de Marina na campanha presidencial
11/04/2010 – Partidos não respeitam exigência de ter 30% de candidatas
11/04/2010 – Candidatos priorizam eleitorado feminino
10/04/2010 – O voto das mulheres, por Fernando Rodrigues
Indicação de fontes:
Fátima Pacheco Jordão – socióloga e especialista em pesquisas de opinião
CulturaData (TV Cultura) e Instituto Patrícia Galvão
São Paulo/SP
Tel.:
Fala sobre: pesquisas de opinião; marketing eleitoral; mídia; estratégias de comunicação
José Eustáquio Diniz Alves – demógrafo
Professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais
da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE
Rio de Janeiro/RJ
(21) 214246 89 / 2142-46 96 / 9966 6432 – [email protected]
Fala sobre: política, poder e a baixa representação das mulheres nos espaços de decisão; pesquisas e dados sobre essa realidade em outros países
Teresa Sacchet – cientista política e pesquisadora
Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP
São Paulo/SP
(11) 3091-3272 (nupps) – 8110-3570 – [email protected]
Fala sobre: gênero e política; participação política das mulheres no Brasil