Pelo menos 840 milhões de mulheres entre 15 e 49 anos no mundo já foram vítimas de violência em algum momento em suas vidas. Uma a cada quatro brasileiras (25,6%), na mesma faixa etária, indicou que sofreu agressões físicas ou sexuais de seus próprios parceiros ou de não parceiros.
O novo relatório, divulgado às vésperas do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres e Meninas, celebrado em 25 de novembro, representa o estudo mais abrangente sobre a prevalência dessas formas de violência contra as mulheres.
O relatório atualiza as estimativas de 2018. Com base em dados coletados entre 2000 e 2023 em 168 países, o documento revela um “quadro alarmante de uma crise profundamente negligenciada e uma resposta criticamente subfinanciada”.
Coletados em um trabalho conjunto pela ONU e OMS e por agências internacionais, os dados confirmam o que as entidades descrevem como “tragédia”:
- Uma em cada três mulheres de 15 a 49 anos no mundo sofreu violência de parceiros ao longo de sua vida;
- Nos últimos doze meses, 316 milhões de mulheres nessa faixa etária pelo mundo (11%) foram sujeitas a violência física ou sexual por um parceiro íntimo;
- No Brasil, 19,1% das mulheres entre 15 e 49 anos afirmaram que foram vítimas de violência cometida por parceiros; 6,5% indicaram que foram vítimas de não parceiros.
“Quase 3% das brasileiras foram vítimas de parceiros íntimos nos últimos 12 meses”, disse Lynnmarie Sardinha, representante do Departamento de Saúde Sexual, Reprodutiva, Materna, Infantil e do Adolescente e Envelhecimento da OMS. “Temos que ampliar os esforços no Brasil, na América Latina e no mundo para lidar com essa violência”, defendeu.
“A violência contra as mulheres continua sendo uma das crises de direitos humanos mais persistentes e negligenciadas do mundo, com muito pouco progresso em duas décadas”, alertou o relatório.
Jeremy Farrar, um dos autores do estudo, aponta que uma das principais conclusões é de que a tragédia é universal e destacou a incapacidade de reduzir sua dimensão.
“O progresso na redução da violência por parceiro íntimo tem sido dolorosamente lento, com uma queda anual de apenas 0,2% nas últimas duas décadas”, apontou o levantamento.
Pela primeira vez, o relatório inclui estimativas nacionais e regionais de violência sexual por alguém que não seja um parceiro. Ele constata que 263 milhões de mulheres entre 15 e 49 anos no mundo sofreram violência sexual por parte de não parceiros, um número que, segundo especialistas, é significativamente subnotificado devido ao estigma e ao medo.
“A violência contra as mulheres é uma das injustiças mais antigas e disseminadas da humanidade, e ainda assim uma das menos combatidas”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
“Nenhuma sociedade pode se considerar justa, segura ou saudável enquanto metade de sua população vive com medo”, insistiu. “Acabar com essa violência não é apenas uma questão de política; é uma questão de dignidade, igualdade e direitos humanos. Por trás de cada estatística, há uma mulher ou menina cuja vida foi alterada para sempre. Empoderar mulheres e meninas não é opcional, é um pré-requisito para a paz, o desenvolvimento e a saúde. Um mundo mais seguro para as mulheres é um mundo melhor para todos”, concluiu.