Continente amarga maiores taxas no mundo — e pandemia piorou a situação. Brasil é líder em números totais; El Salvador e Honduras estão na frente nos relativos. Crimes na região podem ser vistos como continuação da violência colonial
(Outras Palavras | 04/11/2020 | Por Giovanna Moscatiello)
As cifras de violência feminicida nos territórios latino-americanos chamam atenção não apenas pelo alto número de crimes, mas também em intensidade de crueldade. A região que compreende grande parte da extensão continental das Américas do Sul e Central, recebe este nome devido ao passado colonial relacionado aos processos de colonização e invasão Ibérica de espanhóis e portugueses. Com exceção das Guianas, Suriname, Belize e Jamaica, a América Latina corresponde a uma totalidade de 20 países, incluindo o México (único país da América do Norte considerado parte da América Latina). Como um sintoma da crise social/política/econômica que nos assola, como se houvesse uma continuação da violência colonial, nós, mulheres latinas, convivemos com o lema: corpo de mulher, perigo de morte.
Ainda que a região seja pleiteada com uma gama de legislações e medidas protetivas em relação ao delito de feminicídio, segundo dados disponíveis em plataformas digitais como o Portal Geledés (GELEDÉS Instituto da Mulher Negra), Portal Catarinas (Jornalismo com perspectiva de gênero), El País e BBC (mídia online), instituto Patrícia Galvão (PAGU), ONU Mulheres e no Observatório de Igualdade de Gênero da América Latina e do Caribe (CEPAL), a América Latina é a região mais letal para mulheres no mundo (CENTENERA; JUCÁ; REINA; TORRADO, 2018), concentrando índices que chegaram a relação de 11.76 mortes a cada 100.000 mulheres, em El Salvador, no ano de 2018 (ORMUSA, 2020). Segundo a plataforma de comunicação visual Cotejo.info, também para o ano de 2018, uma mulher foi morta a cada quatro dias na Venezuela por conta de razões de gênero (totalizando 90 mortes) (TERÁN, 2018). De maneira contrastante, no Brasil, aproximadamente quatro mulheres morreram por dia nos anos de 2018 e 2019 (CEPAL, 2019).