(Folha de S.Paulo, 14/04/2014) Janaina Lima, 38, foi apedrejada na escola quando era adolescente e traz na nunca a cicatriz de uma facada que levou de um cliente. Ela é a primeira travesti a presidir o Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual de SP –órgão com pessoas da sociedade e do poder público que auxilia a prefeitura nas políticas para LGBTs.
“Não vim para priorizar as travestis, mas para dar visibilidade a elas, porque ficam à margem”, diz a pedagoga, que trabalha no Centro de Referência da Diversidade, do governo municipal, e continua sendo profissional do sexo (por opção e como “complementação de renda”). Janaina, que não revela seu nome de batismo, falou à coluna.
Folha – Quais são suas bandeiras no conselho?
Janaina Lima – Combater o preconceito, as agressões motivadas por ele, fazer campanhas educativas. Chamar a atenção para a travesti, que fica na invisibilidade porque é confundida com um gay que “evoluiu” porque botou peito ou com uma transexual que ainda não fez cirurgia [de mudança de sexo]. O respeito ao nome social resolveria a evasão escolar e ajudaria a entrar no mercado de trabalho.
O que precisa ser feito?
Os governos têm que conversar. É preciso priorizar a segurança. E como um todo. Porque hoje em dia quem tem segurança? É alarmante.
O que pensa do projeto de criminalização da homofobia?
Tenho críticas. Dependendo de como se interpreta o projeto, uma piada pode ser motivo de cadeia. Não se pode pensar numa lei para diminuir crimes contra a população LGBT prendendo pessoas que de alguma forma são vítimas também. Isso pode criar uma guerra. O que a gente quer é respeito.
E sobre Marco Feliciano?
Precisava se autopromover, porque está na vida política. Ele, [Jair] Bolsonaro e outros têm usado as bandeiras [LGBT] para se promover.
Sente preconceito por ainda fazer programas?
Se tive coragem de me assumir como travesti, por que não teria como profissional do sexo? Infelizmente, travesti tem um peso muito maior. Qual é o problema de receber dinheiro em troca de ato sexual? O ruim é quando a pessoa não tem alternativa. Isso é exploração, seja homem, mulher ou travesti. Minha luta é para que a travesti possa fazer sua opção.
Acesse o PDF: ‘Criminalizar a homofobia pode criar uma guerra’ (Folha de S.Paulo, 14/04/2014)