Registros incluem disparos de arma de fogo e ataques com faca, acompanhados de discurso de ódio; no total, três pessoas morreram
(Opera Mundi, 26/10/2018 – acesse no site de origem)
O Mapa da Violência política de Opera Mundi registrou, entre 1º e 25 de outubro, 31 casos em que pessoas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros) foram vítimas de algum tipo de violência no país, com um total de três mortos até o momento. Entre os alvos também estão 17 transgêneros. O mapa contabiliza, até agora, 135 casos de agressões e intolerância.
O levantamento do mapa reúne casos com motivação política divulgados na imprensa regional e nacional. A tabulação e análise dos dados foi feita pelas geógrafas Ana Lígia Guerra e Janete Melo e pelos jornalistas Alceu Luís Castilho, Haroldo Ceravolo Sereza e Lucas Berti. Os números apresentados nesta reportagem compreendem casos registrados até 25 de outubro.
Assassinatos
Entre os mortos, estão o cabeleireiro José Carlos de Oliveira Mota, assassinado no dia 03 de outubro. A vítima, que era homossexual, foi encontrada dentro do armário do próprio apartamento em Curitiba. O corpo tinha sinais de tortura. Segundo mídias locais, os dois suspeitos de cometer o crime teriam gritado palavras de apoio a Jair Bolsonaro durante a ação.
Os outros dois relatos de assassinato também foram motivados por transfobia. No dia 16 de outubro, no largo do Arouche, centro de São Paulo, uma travesti, que não foi identificada, foi morta a facadas durante a madrugada por um grupo pró-Bolsonaro. Uma testemunha disse que os autores do crime gritaram o nome do candidato do PSL durante as agressões.
A morte mais recente ocorreu no centro de Aracaju, Sergipe, no dia 18 de outubro. A transexual Laysa Fortuna, de 25 anos, foi esfaqueada no tórax por um grupo de simpatizantes de Bolsonaro, segundo uma amiga que presenciou o crime e socorreu a vítima. A jovem chegou a ser socorrida, mas morreu no Hospital de Urgência de Sergipe.
Lesão corporal
Além dos casos de assassinato, episódios de lesão corporal contra o público LGBT também foram reunidos no Mapa de Violência, e são oito até o momento. A maioria deles aconteceu nas regiões sul e sudeste do Brasil, com outros dois em Manaus e Campo Grande.
Na região da Pampulha, em Belo Horizonte, no dia 09 de outubro, uma analista de operações de 24 anos foi atingida por uma caixa, arremessada por um eleitor de Jair Bolsonaro. A jovem, que é homossexual, disse à reportagem do Estado de Minas que foi agredida por ódio político e por ser lésbica.
No dia seguinte, a travesti Julyanna Barbosa, ex-integrante do grupo Furacão 2000, foi atacada com barras de ferro por apoiadores de Bolsonaro, no centro de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. A cantora foi ferida na cabeça e nos ombros, além de ter recebido socos em outras partes do corpo.
Uma perseguição também foi relatada na região da Cinelândia, Rio de Janeiro, no dia 11 de outubro, pela professora e pesquisadora trans Jaqueline Gomes de Jesus. A vítima contou que um homem que vestia a camisa da Seleção Brasileira a abordou e a agrediu repentinamente.
À reportagem da Ponte, Jaqueline contou que ficou conhecida na região por ter se candidatado a deputada estadual pelo PT, fato que motivou uma série de ataques vindos de eleitores conservadores durante a campanha.
Outra agressão foi registrada na mesma semana, no dia 12 de outubro, em Itatiba, interior paulista. O jovem Vinícius Costa, de 18 anos, levou socos na cabeça após uma discussão política. Enquanto era agredido, Vinícius foi chamado de “veado” e ouviu palavras em apoio a Bolsonaro.
Já em 13 de outubro, um homem de 20 anos foi baleado em frente a uma festa LGBT em Campo Grande. Testemunhas contaram que o agressor saiu de um carro e atirou em direção de um grupo de pessoas, enquanto gritava palavras de ódio. A proprietária do estabelecimento contou que vem sofrendo ameaças por razões políticas na internet, feitas por um homem que se parece com o suposto autor dos disparos.
Reprodução
Foram registrados ao menos 31 casos de violência contra LGBTs entre 1º e 25 de outubro
Estupro
Um caso de estupro foi relatado em Curitiba, no dia 15 de outubro. O coletivo ¡Aquí se Respira Lucha!, do Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), publicou em sua página oficial uma nota de pesar diante do estupro de uma mulher transexual de 22 anos.
A vítima fez a denúncia de forma anônima e disse ter sido agredida e violentada por conta de um adesivo da campanha #EleNão, contrária a Bolsonaro. Segundo o grupo estudantil, “B17” e suásticas também foram pichadas no local.
No dia 16, o estudante universitário Kauê Sant’Anna, que é homossexual, foi agredido por três homens no centro de Porto Alegre. O jovem se disse vítima de ódio gratuito, comparou o crime a outros relatos de violência motivados por política e disse que teme pelo começo do próximo ano.
“Tenho medo do dia de amanhã, eu tenho medo do dia 1º de Janeiro de 2019. Felizmente o medo nunca me fez deixar de ser quem eu sou, e esses acontecimentos eles servem pra nos calar, nos diminuir”, disse, ao portal Sul 21.
Pichações
Segundo o levantamento feito pela equipe à frente do Mapa da Violência, ao menos seis pichações homofóbicas foram registradas em todo o território brasileiro.
Na unidade Tamandaré da rede de cursinho Anglo, em São Paulo, a frase “Morte aos negros, gays e lésbicas” foi encontrada em um dos banheiros, no dia 10 de outubro. Na Universidade São Judas Tadeu, na mesma cidade, foram vistas pichações com a inscrição “gays do demo”.
No dia seguinte, no dia 11 de outubro, a Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo identificou os dizeres “Bolsonaro vai limpar essa faculdade de preto e viado”. Abaixo, estava escrito o número 17, do partido do candidato.
No mesmo dia, a frase “Bando de viado FDP Bolsonaro 17”, com uma suástica no lugar da letra “S”, foi encontrada em um banheiro do curso de Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).
Já no dia 17, na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, um banheiro da reitoria foi marcado com as palavras “morte aos gays”, “morte aos viados”, “morte a todos LGBT”, além de símbolos nazistas. Os casos foram originalmente divulgados por alunos em postagens nas redes sociais e, em seguida, provocaram manifestações de repúdio por parte das respectivas instituições de ensino.
Em parceria com o Observatório do Autoritarismo e
Por Haroldo Ceravolo Sereza eLucas Berti