(Brasil de Fato, 25/09/2014) Hoje (25) será julgado o mentor do estupro coletivo ocorrido na cidade de Queimadas no estado da Paraíba. Há dois anos e sete meses, os paraibanos e as paraibanas se viram diante de um crime de extrema violência contra as mulheres do agreste paraibano. O crime aconteceu no dia 12 de fevereiro de 2012.
Em pleno carnaval, cinco mulheres foram atraídas para um aniversário, que se transformou, numa cena de crime bárbaro de estupro e assassinato de duas mulheres, Isabela Pajuçara e Michelle Domingos. O crime foi minuciosamente planejado por 10 homens, entre eles três menores de idade, o que chocou e ainda choca a população brasileira e mundial.
Pedir justiça foi o lema das famílias das vítimas e de todos os movimentos sociais feministas e de mulheres da Paraíba que se viram diante do machismo e misoginia que ainda resistem na sociedade brasileira.
“Diante da dimensão de desumanidade e dos detalhes frios, cruéis e selvagens que envolveram este dia de violência pedimos a condenação máxima do acusado”, declarou Lourdes Meira, militante da União Brasileira de Mulheres.
A justificativa do crime: presente de aniversário para Luciano dos Santos Pereira (44). O mentor do crime foi o irmão de Luciano, Eduardo dos Santos Pereira, que era ex-cunhado de Isabela Pajuçara, uma das mulheres assassinadas.
Muita pressão foi feita e organizada nas ruas pedindo justiça, a CPMI da Violência contra a Mulher visitou a Paraíba e diagnosticou a situação de vulnerabilidade das mulheres em Queimadas e em seu entorno. Mas a indignação ainda continua.
“A objetificação das mulheres é sustentada na sociedade capitalista, machista, racista e patriarcal que vivemos. Diariamente as mulheres são violentadas pelo Estado e pela sociedade, mulheres morrem pela sua condição de ser mulher”, afirma Aylla Milanez, militante da Articulação de Mulheres Brasileiras.
“Precisamos seguir lutando pela inclusão do crime de feminicídio no Código penal e pautando nossas reivindicações contidas no Dossiê sobre a violência contra mulher do movimento feminista e de mulheres da Paraíba que entregamos a CPMI.”, explicou Aylla Milanez.
No dia 13 de junho, foi noticiado que o júri popular do mentor do crime e do assassinato das duas vítimas, Eduardo dos Santos Pereira, foi desaforado para a comarca de João Pessoa. Essa foi uma das principais reivindicações dos movimentos de mulheres que acompanhavam o caso, por compreender que isso evitaria interferência nos rumos do julgamento por conta das relações familiares, políticas e socioeconômicas que os acusados mantêm na região.
Eduardo está sendo acusado de duplo homicídio qualificado, estupro, porte ilegal de arma, corrupção de menores, formação de quadrilha e cárcere privado.
Quanto aos demais envolvidos, em sentença dada no dia 23 de outubro de 2012, pela juiza Flávia Baptista Rocha da Comarca de Queimadas, os seis sentenciados foram condenados. Luciano dos Santos Pereira a 44 anos de prisão; Luan Barbosa Casimiro a 27 anos; Fernando França Silva Junior a 30 anos; Jacó Sousa a 30 anos; José Jardel Souza Araújo a 27 anos; e Diego Domingos a 26 anos e seis meses. Todos estão cumprindo pena em regime fechado no Presídio de Segurança Máxima PB1. A diferenciação nas penas deve-se ao fato de que as condutas criminosas de cada um dos autores foi considerada separadamente.
Quanto aos menores, a pena pode durar até três anos e está sendo cumprinda no Lar do Garoto, em Lagoa Seca, condição que pode ser reavaliada dependendo do comportamento deles.
Banalização da violência
O estupro coletivo de Queimadas se torna emblemático para as mulheres desta região, no sentido de trazer à tona a banalização da violência enfrentada por elas. É o caso de Ana Alice que era militante do Polo Sindical da Borborema e foi assassinada no dia 19 de setembro de 2012. Quando voltava da escola, ela foi sequestrada e barbaramente violentada. Seu corpo foi enterrado na Zona Rural do município de Caturité e só foi encontrado 50 dias após o crime.
Desde o desaparecimento da jovem, foi formado o Comitê de Solidariedade e Pelo Fim da Violência Contra a Mulher Ana Alice, composto por mais de 30 organizações rurais e urbanas. Foi por meio da pressão e da mobilização criada em torno do Comitê, que o caso Ana Alice pode ser investigado e solucionado, com a prisão dos envolvidos. O mentor e mais um adolescente, que teve participação no crime, estão respondendo a processo para apuração de ato infracional, mas ainda não foram julgados.
Portanto, estes crimes se inserem no contexto de violência que as mulheres da Paraíba vivenciam, pois de acordo com o Mapa da Violência de 2012 realizado pelo Instituto Sangari, a Paraíba é o 7° estado onde mais ocorrem assassinatos de mulheres e, a capital João Pessoa, a 2ª cidade em feminicídios.
Segundo informações dos moradores da cidade de Queimadas é comum as mulheres serem estupradas, mortas ou acordarem de madrugada na rua, sem saber como foram parar lá, portanto o que em princípio seria um crime localizado, parece ter trazido à tona a conjuntura vivida pelas mulheres desta região.
“As famílias das vítimas até hoje são tratadas como culpadas, são frequentemente agredidas nas ruas e pelas redes sociais por parte da população queimadense que inverte o papel das vítimas pelo dos agressores.”, revelou Íria Machado, da Marcha Mundial das Mulheres.
Por isso, no dia 25 de setembro durante o julgamento do mentor do crime de estrupro e assasinato, que acontece no centro de João Pessoa, no Fórum Criminal, haverá uma grande mobilização de mulheres pedindo justiça e gritando por direitos de serem livres e felizes, numa sociedade que enfrente seus problemas de machismo, desigualdades e feminicídio.
“Pelo machismo, pela injustiça cometida, pela maldade, pela covardia, por cada parte de seus corpos que foram destruídos até a última gota de sangue que foi derramada, eu clamo por justiça!”, desabafa indignada Isânia Monteiro, a irmã de Isabela Pajuçara.
Nesse sentido, as mulheres pedem que todas e todos possam participar da campanha Somos Todas e Todos Mulheres de Queimadas nas redes sociais do dia 22 ao dia 26 de setembro dizendo #SOMOS TODAS E TODOS MULHERES DE QUEIMADAS.
Heloisa de Sousa