Mais da metade dos trabalhadores já presenciaram discriminação ou assédio. Entre as mulheres, 74% já vivenciaram alguma dessas situações no ambiente de trabalho, segundo pesquisa feita por uma plataforma de trabalho freelancer
(O Estado de S.Paulo, 17/10/2017 – acesse no site de origem)
Uma pesquisa realizada com 5.151 pessoas na América Latina revela que, em 2016, 55% deles já presenciaram ou sofreram algum tipo de discriminação ou assédio no ambiente de trabalho. Os resultados também apontam que metade dos entrevistados (50%) já sofreram desigualdade no trabalho, tanto em relação ao gênero, raça ou orientação sexual. Os dados foram coletados pela Workana, plataforma de trabalho freelancer com atuação em toda a América Latina. Segundo a pesquisa, 74% das entrevistadas do sexo feminino afirmam terem sofrido algum tipo de discriminação ou assédio.
A relações públicas, Anna Paula Mathias, de 30 anos, teve a sua saúde prejudicada depois de trabalhar em uma agência de intercâmbio no Rio de Janeiro (RJ). Após dois meses de trabalho, Anna começou a receber o que considera cobranças excessivas e, segundo ela, ligações fora do horário de trabalho por parte do dono da empresa. “Não demorou muito para começarem os gritos e os xingamentos. Um dia ele matou uma barata e deixou o bicho morto dentro do banheiro para depois me perguntar se eu havia gostado do presente”, conta. A situação levou a RP a um quadro de depressão e fez com que ela pedisse uma licença médica. “Em uma desavença ele ficou muito estressado, gritou, foi atrás de mim e pegou no meu braço. Eu me desvencilhei, mas aquilo me marcou, mexeu comigo de um jeito que parecia ter desconstruído tudo que eu vivi”.
Discriminação racial. Além do preconceito de gênero, a questão racial também aparece no ambiente de trabalho. Segundo o IBGE, o salário de brancos são 80% mais altos do que os de negros e pardos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) também aponta que eles são 28,5% dos desempregados do país.
Lilian Moura, 26, é assessora de impresa e faz parte dos 55% de latino-americanos que já sofreram ou presenciaram algum tipo de discriminação nas empresas em que trabalhou. “Eu sempre ouço que alguém ‘fez serviço de preto’ quando algo não foi realizado corretamente. Eu fico com receio de corrigir a pessoa, mas isso nunca me impediu de questionar”, diz Lilian, que é negra.
Indenização. De acordo com Guilherme Guimarães, Presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, as empresas condenadas por assédio moral, sexual ou por discriminação podem ser penalizadas com indenizações morais e em relação à saúde do trabalhador.
Se há um tratamento associado a um Transtorno Mental e Comportamental relacionado ao trabalho (TMCRT), o empregador também pode ser condenado a pagar as despesas do tratamento, como um acompanhamento psíquico e os custos de medicamento.
Segundo o juiz, as discriminações podem ser diretas ou indiretas. “A discriminação direta é promovida intencionalmente quando, por exemplo, algum empregado não é promovido por ser negro ou por ter uma orientação sexual específica. Já a indireta é mais difícil de se perceber. Ela ocorre quando uma empresa discrimina pelas circunstâncias que ela define”.
Outros dados. A pesquisa desenvolvida pela Workana também aponta outros dados sobre as condições laborais dos latino-americanos. De acordo com a empresa, 57% dos entrevistados tiveram menos de 10 dias de férias em 2016. Apenas 19% dos que responderam a pesquisa ganham mais de 1.000 dólares (cerca de R$ 3.150) por mês. Trinta e sete por cento dos que responderam a pesquisa afirmaram ter dificuldades de conciliar a vida pessoal e profissional.