Feministas francesas condenam carta que defende direito de ‘importunar’

10 de janeiro, 2018

Para ativistas, texto assinado por cem mulheres banaliza violência sexual

(O Globo, 10/01/2018 – acesse no site de origem)

Ativistas francesas pelos direitos das mulheres condenaram nesta quarta-feira a polêmica carta aberta escrita por um grupo de cem mulheres do país europeu que defende os homens alvo de acusações de má conduta sexual. Em um texto publicado no site “Franceinfotv”, Caroline De Haas e 30 outras feministas condenaram fortemente o texto publicado no jornal “Le Monde” nesta terça-feira.

— Esta carta é um pouco como o estranho colega de trabalho ou o tio irritante que não entendem o que está acontecendo — afirma a mensagem das ativistas.

No texto assinado por cem mulheres francesas e publicado no diário “Le Monde”, o movimento releva muitas atitudes masculinas que o feminismo atual condena. “Não nos reconhecemos neste feminismo que, para além de denunciar abusos de poder, encarna um ódio aos homens e à sexualidade”, assegurou o coletivo, que considera a “liberdade de importunar indispensável à liberdade sexual”.

De acordo com as feministas francesas, porém, a centena de mulheres, entre as quais está a atriz Catherine Deneuve, de 74 anos, está usando a exposição da mídia para que a violência sexual pareça “normal”.

Para Caroline, essas atrizes e personalidades “utilizam mais uma vez a visibilidade que dispõe na mídia para banalizar a violência sexual”.

— Elas desprezam as milhões de mulheres que sofrem ou sofreram essa violência — frisou.

O texto a que as ativistas se opõe pretende contrapor o que as francesas chamaram de “campanha de delações” ou “caça às bruxas” após o escândalo sexual do produtor Harvey Weinstein, no ano passado.

— As signatárias da carta do “Le Monde” estão a favor da maioria dos reincidentes quando falamos da defesa de pedófilos ou de desculpas da violação — dizem as autoras da mensagem.

Caroline ressaltou ainda que “aceitar os insultos direcionados às mulheres é, de fato, autorizar as formas de violência”.

— A cada dia, centenas de milhares de mulheres são vítimas de assédio. De dezenas de milhares de agressões sexuais. E de centenas de estupros. A cada dia — alertou a feminista.

Uma série de acusações contra o magnata encorajou vítimas de abusos de Hollywood e da sociedade a denunciarem os seus abusadores. Nas redes sociais, o movimento ganhou o nome #MeToo (“eu também”, em tradução literal). A mensagem controversa, que segue direção contrária a esse movimento, assinada por atrizes, intelectuais e jornalistas lideradas por francesas, como a escritora Catherine Millet, diz rechaçar o “puritanismo” que, segundo elas, se instalou após as acusações contra Weinstein.

]Embora considere “legítima” a tomada de consciência sobre a violência sexual, sobretudo no ambiente profissional, o grupo avalia que o movimento obriga as mulheres a se posicionarem de certa forma e taxa de “traidoras e cúmplices” quem se nega a seguir suas diretrizes.

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