Na Nigéria, vítimas do Boko Haram se prostituem para conseguir comida

29 de setembro, 2016

Cansada de ver seus cinco filhos passarem fome em um campo no nordeste da Nigéria para pessoas que fugiram da facção radical Boko Haram, Amina Ali Pulka decidiu aproximar-se de um rapaz que trabalhava na cozinha.

(Folha de S.Paulo, 29/09/2016 – acesse no site de origem)

Desesperada pela falta de alimentos distribuídos no campo de Bakassi, na cidade de Maidiguri, Amina, 30 anos, fez sexo com o homem em troca de comida extra para dar a seus filhos.

“Fiz isso porque não tenho ninguém que me alimente ou me vista”, ela disse à Thomson Reuters Foundation pelo telefone. O homem –que, como ela, fugiu de onde vivia devido à violência do Boko Haram– também lhe deu dinheiro que ela usou para comprar sabonete e outros artigos.

Amina é uma das muitas mulheres nos acampamentos para pessoas internamente deslocadas (PIDs) no nordeste da Nigéria que trocam sexo por comida, sabonete e dinheiro, revelaram a agência assistencial médica International Medical Corps (IMC) e a organização nigeriana de pesquisas NOI Polls.

Organizações humanitárias avisam sobre a fome, a desnutrição e os estoques minguantes de comida para as pessoas deslocadas no Estado de Borno.

“Às vezes a comida não é suficiente, então as mulheres se vendem por comida e dinheiro”, falou Hassana Pindar, da IMC, que opera centros de apoio para mulheres nos campos.

A violência do Boko Haram deixou mais de 65 mil pessoas no nordeste do país passando fome, enquanto 1 milhão de outras estão em risco. Uma coalizão de organismos de assistência disse na semana passada que em algumas partes do Estado de Borno, mais de metade das crianças de até 5 anos estão desnutridas.

A facção militante islâmica já matou cerca de 15 mil pessoas e deslocou mais de 2 milhões de pessoas na Nigéria, numa insurgência que se arrasta há sete anos e tem o objetivo de criar um Estado que seja regido pelas leis islâmicas.

Uma ofensiva militar expulsou o Boko Haram de boa parte do território que o grupo controlava no norte da Nigéria, mas os militantes continuam a lançar ataques suicidas e investidas no nordeste da Nigéria e nos países vizinhos Camarões, Níger e Chade.

SEXO EM TROCA DE COMIDA E LIBERDADE

Quase 90% das pessoas no nordeste da Nigéria expulsas de suas casas pelo Boko Haram não têm o suficiente para comer, revelou pesquisa feita na semana passada pela NOI Polls, segundo a qual muitas mulheres estão vendendo sexo por comida e a liberdade de entrar e sair dos campos de PIDs.

Os responsáveis pela pesquisa disseram que a possibilidade de abusos sexuais é uma preocupação e que, em dois terços dos casos, pessoas deslocadas acusam autoridades dos campos de cometer os abusos.

Centenas de pessoas deslocadas promoveram um protesto em agosto em Maiduguri, acusando autoridades do Estado de roubar rações alimentares. O protesto levou o presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, a instruir a polícia a prender os culpados e fazê-los servir de exemplo.

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