Embora sejam múltiplos os fatores do absentismo, o mais latente de todos e o fenômeno da Violência domestica e familiar que se camufla no silêncio, trata-se de um fator pontual e responsável não só pela ausência, mas também pelo presenteísmo superficial das trabalhadoras.
(O Estado de S. Paulo, 10/09/2016 – acesse no site de origem)
Segundo dados divulgados pelo Banco Mundial em parceria com Banco Interamericano de Desenvolvimento, em todo o mundo a violência contra a mulher é responsável por 20% das ausências no trabalho.
A violência domestica ultrapassa o ambiente familiar e reflete seus efeitos devastos na vida social e profissional das mulheres, alcança à sociedade, às empresas e o poder público. Neste cenário não há espaços para omissões, pois são assombrosos os índices de violência doméstica e familiar.
Pesquisas apontam que o país está em sétimo lugar em um ranking de 84 países em feminicídio. Verifica-se, a partir disto, uma discriminação social entre homens e mulheres com base no gênero, que, na maioria das situações, acaba legitimando a violência contra a mulher. No DNA da violência doméstica há inconfundíveis traços genéticos do patriarcado e do machismo, que se reproduzem reiteradamente o ciclo da perversidade de gênero.
Ao mapear o problema emblemático do absentismo ocasionado pela violência contra as mulheres, constata-se que é elevado o grau de ausência, seja por vergonha de mostrar as marcas físicas dessa violência, pois a agressão as coloca num estado de prostração tal que as torna incapazes de reagir e sair de casa para trabalhar, ou porque os agressores as impedem de trabalhar para poderem mantê-las sob o seu domínio.
É sabido que por todos estes fatores as mulheres em situação de violência doméstica são penalizadas dentro das empresas, o que facilita ainda mais a total dependência e submissão delas em relação ao agressor. Por isso, faz-se necessária uma profunda sensibilização de todos os intervenientes para que as trabalhadoras possam receber um maior apoio, para que as atividades profissionais lhes permitam libertar-se em lugar de reforçarem a sua dependência econômica.
Envolver as empresas para esta realidade tem o desiderato de transformá-las em agentes de mudanças, para desconstruir uma vida de submissão e medo e resgatar a dignidade das mulheres e a condição de destaque no mercado de trabalho.
Entende-se que o silêncio empresarial acerca da violência de gênero é um reforço para o ciclo vicioso e reiterado de exclusões das mulheres no mercado de trabalho e, sobretudo, da dificuldade das mulheres de alcançar postos de lideranças e de se manterem em suas vagas de trabalho.
Notória é a necessidade de políticas empresariais com o fito de coibir toda e qualquer forma de violência contra as mulheres, assim como a eliminação das desigualdades de gênero. É fundamental que os planos de ações precisam estar alinhados com o combate à violência, à desmistificação e ausência de revitimização.
Embora cada vez mais as mulheres atinjam a sua independência profissional e econômica, e escreva sua própria história, o mercado de trabalho precisa alinhar-se às demandas femininas e adequar às transformações necessárias sob a perspectiva de gênero.
*Cândida Cristina Coelho Ferreira Magalhães é advogada e militante feminista