A academia e a ciência continuam sendo um campo onde diversos grupos permanecem sub-representados. As mulheres, em particular, continuam a enfrentar barreiras estruturais e culturais que dificultam seu progresso e pleno desenvolvimento de suas carreiras acadêmicas e científicas.
Dados da UNESCO mostram que, globalmente, as mulheres representam apenas 30% dos pesquisadores. No Brasil, essa proporção é um pouco melhor, mas a desigualdade persiste em posições de liderança, demonstrando o conhecido efeito-tesoura.
Vale ressaltar que quando a análise leva em consideração raça, a desigualdade é ainda mais gritante. Dos professores de pós-graduação em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) no Brasil, 29,2% são mulheres brancas, enquanto apenas 2,5% são mulheres pretas, pardas ou indígenas. Mais gritante ainda é a sub-representação de pessoas com deficiência: apenas 0,19% dos docentes do ensino superior são mulheres com deficiência.
A maternidade representa um desafio significativo para mulheres cientistas em todo o mundo e contribui para sua sub-representação, frequentemente colocando em xeque suas trajetórias acadêmicas. O sistema acadêmico atual não está adequadamente equipado para apoiar as mães que desejam prosseguir suas carreiras científicas. Ao contrário, há uma penalização destas cientistas por não se enquadrarem em um modelo arcaico de academia, que ainda se apega ao mito de uma falsa meritocracia.
As mães cientistas enfrentam desafios significativos na academia, onde as políticas de apoio ainda não correspondem às necessidades reais de cuidados infantis, em uma sociedade que coloca quase que exclusivamente na mulher a responsabilidade por este cuidado. A pressão constante para publicar artigos científicos, orientar estudantes e garantir financiamento pode ser exacerbada para as mães, que enfrentam interrupções na produtividade devido às responsabilidades de cuidar dos filhos.
A queda de produtividade das mães é, então, esperada, dado que não existem políticas efetivas de manutenção da carreira, como a possibilidade de contratação de pesquisadores temporários para assumir a pesquisa durante a licença maternidade ou no período imediato ao retorno. É crucial reconhecer que essa diminuição nas publicações não indica falta de comprometimento, competência ou capacidade das cientistas mães, mas há uma readaptação da carreira após a maternidade.
No entanto, a expectativa de uma carreira linear e ininterrupta na academia não leva em conta essas realidades, criando um ciclo vicioso onde a queda na produtividade resulta frequentemente em menos financiamento e oportunidades de pesquisa. Isso, por sua vez, limita as possibilidades de avanço na carreira das mulheres cientistas que são mães, contribuindo para a perpetuação da desigualdade de gênero no ambiente acadêmico.