Não basta ser vítima: mulheres assediadas enfrentam o questionamento constante sobre suas roupas ao serem sexualmente importunadas
(VOGUE | 05/11/2021 / Por Anna Virginia Balloussier e Mathilde Missioneiro)
Com que roupa eu não vou?
No mundo todo, a primeira pergunta que muitas das mulheres e jovens violadas sexualmente escutam ao procurar ajuda é sobre o que estavam vestindo ao serem abordadas. No Brasil, segundo os Institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, 83% delas evitam certos tipos de roupas e acessórios, sobretudo quando saem a locais públicos. Outra pesquisa, realizada há cerca de cinco anos pelo Datafolha, mostrou que um em cada três brasileiros acreditavam que mulheres com comportamento visto como provocativo ou usando roupas sensuais poderiam ser consideradas culpadas por ataques sexuais.
Em “Mulheres, roupa e trabalho” (Ed. Paralela), obra lançada recentemente pela advogada criminalista Mayra Cotta e a consultora de moda Thais Farage, um capítulo inteiro é dedicado à relação entre vestimentas e assédio sexual no ambiente de trabalho. Mas, conforme as autoras, as reflexões ali cabem em muitas outras esferas, em que a roupa com alguma frequência é usada como se fosse uma armadura e as peças são escolhidas pensando em como dificultar a ação de um assediador. Elas acrescentam ainda: “quando falamos sobre roupas, é evidente que discutimos também o corpo e as possíveis abordagens dele – afinal, toda roupa veste um corpo”.