(Portal Áfricas, 26/01/2015) “(…)as mídias negras ocupam um importante lugar no processo de comunicação e circulação de informação sobre a temática racial no Brasil”, aponta nova ministra da SEPPIR
Nilma Lino Gomes a nova ministra da Seppir – Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR) – concedeu entrevista ao PORTAL ÁFRICAS onde aborda os principais desafios da SEPPIR e aponta os rumos de trabalho para os próximos anos. Em sua primeira entrevista a um veículo da mídia negra após tomar posse cita a importância de se aprimorar as ferramentas de ação da SEPPIR e de articular os programas da pasta com o lema do governo da presidente Dilma Roussef (PT), “Brasil, Pátria Educadora”.
Nilma Lino é mineira de Belo Horizonte, pedagoga, titulada mestre pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), doutora pela USP (Universidade de São Paulo) e pós-doutora pela Universidade de Coimbra. Antes de ser empossada ministra foi desde abril de 2013 reitora pro tempore da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).
Confira abaixo a entrevista:
Áfricas – Militante histórica no movimento negro e hoje ministra no governo federal, após todos estes anos de luta, como a senhora avalia a questão da desigualdade racial no Brasil?
Nilma Lino Gomes – Fizemos avanços na luta pela promoção da igualdade racial e pelo enfrentamento ao racismo. Essa luta faz parte do processo de superação da desigualdade racial. Portanto, não há como dizer que, hoje, a questão da desigualdade racial não apresenta mudanças. No entanto, ainda há muito trabalho pela frente para realizarmos uma completa superação. Este é um dos trabalhos da SEPPIR. Espero contribuir com a minha capacidade de trabalho e experiência.
Áfricas – As mídias negras são um espaço fundamental para difundir temas que na maioria das vezes são negligenciados nos veículos tradicionais. A questão racial demanda um debate público e cada vez mais presente no cotidiano dos brasileiros. Quais suas propostas para fortalecer as mídias negras em nosso país?
Nilma Lino Gomes – De fato, as mídias negras ocupam um importante lugar no processo de comunicação e circulação de informação sobre a temática racial no Brasil. Meu desejo é conhecer um pouco mais estes veículos, compreender seus objetivos, visão política e midiática e formas de abordagem para depois pensarmos juntos propostas de fortalecimento dentro dos objetivos, missão institucional e condições da SEPPIR. Para se fortalecer, o trabalho das mídias negras deverá ser conhecido não só pela população negra e militante, mas pelo público em geral.
Áfricas – As religiões de matriz africana, por muito tempo discriminadas, vêm cada vez mais recebendo reconhecimento por sua contribuição histórica e religiosa. A senhora considera que o crescimento da incorporação das religiões de matriz africana nas práticas brasileiras pode contribuir com a construção de uma sociedade mais igualitária?
Nilma Lino Gomes – As práticas das religiões de matriz africana já são historicamente incorporadas pela população brasileira quer seja de maneira consciente ou inconsciente. Elas fazem parte de nossa matriz cultural.
Todavia, ainda há grande desconhecimento sobre a força cultural, histórica e política dessas religiões na configuração da nossa sociedade. Soma-se a isso situações de intolerância e violência religiosa.
Penso que o desvelamento da presença das práticas e da força ancestral dessas religiões no cotidiano dos brasileiros e brasileiras é um dos caminhos para a construção de uma sociedade igualitária. Porém, esse processo deverá caminhar junto com as práticas e políticas de superação da intolerância/violência religiosa.
Áfricas – Ministra, quais suas metas de trabalho para o ano de 2015?
Nilma Lino Gomes – O trabalho da nova gestão está no início. Esse é um momento de ouvir primeiramente todos os setores internos e, aos poucos, ir expandindo a escuta para os setores externos.
A princípio, posso dizer que as metas gerais são continuar colocando em prática e aprimorar 4 eixos de ação da pasta da SEPPIR: as ações afirmativas, o tratamento com os quilombolas e povos de comunidades tradicionais, o olhar sobre a juventude e a internacionalização da SEPPIR, com a ampliação do conhecimento e das ações em âmbito internacional.
Espero também alinhar o aprimoramento desses 4 eixos com o lema do novo governo da Presidenta Dilma – Brasil, Pátria Educadora, até porque o trabalho de promoção da igualdade racial e de enfrentamento ao racismo no país tem um caráter político, articulador e, acima de tudo, educativo.
Luís Michel Françoso
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