Novos sites surgem como opção a Airbnb após queixas de racismo

25 de julho, 2016

(O Globo, 25/07/2016) Criados por viajantes negros, Noirbnb e Innclusive prometem atenção contra anfitriões preconceituosos

Acusações de que o Airbnb ignora queixas de racismo levaram empreendedores negros a criar dois novos sites de aluguel por temporada onde, segundo eles, racismo não será tolerado. Os portais Innclusive.com e Noirbnb.com dizem que estão registrando anfitriões nos Estados Unidos e no mundo e esperam abrir suas plataformas para locação até o final de agosto.

Os sites surgem meses após viajantes alegarem terem sido rejeitados por anfitriões do Airbnb por serem negros. Muitos desses usuários têm publicado suas experiências no Twitter com a hashtag #AirbnbWhileBlack.

Entre as histórias que ganharam notoriedade está a de Gregory Selden. Ele foi rejeitado como hóspede em uma residência, que depois o aceitou quando ele reservou as mesmas datas, usando um perfil falso, como um homem branco. Desde então, Selden entrou com uma ação contra o Airbnb. Outro caso chamou a atenção em junho, quando o Airbnb removeu um anfitrião na Carolina do Norte que supostamente usou um insulto racial para rejeitar a oferta de uma mulher negra.

A experiência com o Airbnb do fundador do Innclusive.com, Rohan Gilkes, começou quando ele tentou reservar uma propriedade em Idaho em diferentes datas, sendo sempre rejeitado. Uma amigo branca depois reservou para as mesmas datas e foi aprovada. O caso levou Gilkes, um empreendedor que criou mais de meia dúzia de companhias, a fundar a Innclusive, com Zakiyyah Myers.

– A ideia realmente surgiu da falta de resposta que tive do Airbnb. Se eles tivessem sido um pouco mais compreensivos, ou se eu sentisse que estavam levando o problema a sério, eu estaria ocupando meu tempo com outra coisa agora – afirma Gilkes.

Página de entrada do site Innclusive.com (Foto: AP)

Entre as inovações da Innclusive está uma ferramenta tecnológica simples que permite que os anfitriões só vejam as fotos dos hóspedes após a reserva ter sido aprovada. Se o anfitrião cancelar a reserva depois de ter visualizado a foto, ele não poderá reservar a propriedade nas mesmas datas para outras pessoas.

Gilkes diz que está se animando com a procura de outras etnias, incluindo muitos anfitriões e viajantes brancos:

– Eles querem gastar seu dinheiro e viajar de maneira alinhada a seus valores.

Já Stefan Grant e Ronnia Cherry, fundadores da Noirbnb, estavam hospedados em uma residência alugada em Atlanta, onde Grant se apresentava em um festival de música, quando os vizinhos chamara a polícia, que já chegou com as armas em punho.

– Eles viram negros na casa e concluíram que estávamos roubando o lugar – conta Grant. O Airbnb deu a eles um voucher para acalmar os ânimos, mas ele sentiu que a empresa foi indiferente com seu caso.

Grant diz que sugeriu ao Airbnb um programa para garantir que os viajantes negros “tivessem pessoas na empresa que se importassem com o que acontecia com eles”, mas não obteve resposta. Então criaram a Noirbnb.com, que está ainda cadastrando potenciais usuários.

– Nós queremos criar uma cultura onde essas coisas não acontecem. Como uma empresa com donos negros, desejamos criar algo que todos possam usar. Queremos ser uma plataforma multicultural, onde não há apenas pessoas de cor e sim pessoas que respeitem todas as cores – diz Cherry.

Entre aqueles que se orgulham de serem integrantes do Noirbnb está Ashley Warmington, dona da Cozy Oasis, no Brooklyn, em Nova York, uma empresa que presta serviço a proprietários de imóveis para aluguel de temporada.

– A energia e o foco em empreendedorismo motiva todo mundo a fazer o melhor. Eu vi isso no Noirbnb – ela disse.

AIRBNB PROMETE REVER PRÁTICAS INTERNAS

O Airbnb tem uma política de longa data que proíbe discriminação, mas em janeiro, um estudo feito por pesquisadores da Harvard Business School chegou à conclusão que viajantes afroamericanos têm menos chance de serem aprovados por um anfitrião do Airbnb que viajantes brancos.

Na última semana, o CEO da companhia, Brian Chesky, afirmou em comunicado no blog do Airbnb que as acusações de racismo são “os maiores desafios que nós enfrentamos como empresa”, e se comprometeu a “criar novas ferramentas” anti-preconceito. Uma revisão das práticas da empresa está a caminho, liderada pela ex-chefe do escritório legislativo da American Civil Liberties Union, Laura Murphy. A companhia também contratou o ex-procurador geral dos Estados Unidos, Eric Holder, como consultor nesse processo.

Murphy disse que que os resultados e as novas políticas da empresa serão divulgados por volta da primeira semana de setembro, e que eles irão focar em se tornar mais responsivos às queixas, implementando treinamento anti-preconceito e prevenindo discriminação nas reservas. Ela não forneceu maiores detalhes sobre quantas queixas de racismo têm sido recebidas ou quantos anfitriões já foram desligados, mas disse que a empresa deve “monitorar o comportamento do anfitrião para ter certeza de que aquelas pessoas que agem de forma discriminatória não são permitidas de participar da nossa plataforma”.

Perguntada sobre a exigência da foto do perfil, quando muitas pessoas dizem ser rejeitadas por causa da cor da pele, a porta-voz do Airbnb, Courtney O’Donnell, disse que as fotos “têm sido uma importante ferramenta para conectar anfitriões e hóspedes”, alem de ser uma questão de segurança, que permite que as partes se reconheçam no check-in. Mas, ela acrescentou, “estão revendo todos os aspectos da nossa plataforma, incluindo o uso das fotos”.

Acesse o PDF: Novos sites surgem como opção a Airbnb após queixas de racismo (O Globo, 25/07/2016)

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