Violência doméstica, perseguição durante a ditadura militar, racismo escancarado, agressões físicas e verbais, a história de luta de uma das vozes mais marcantes do Brasil
(Correio Braziliense | 20/01/2022 | Por Aline Brito)
Nesta quinta-feira, aos 91 anos, Elza Soares partiu deixando um legado admirável não só na música brasileira, mas também na luta contra o racismo. Eleita pela BBC de Londres ‘A voz do milênio’ na virada de 1999 para 2000, a cantora sempre será uma forte representante do ativismo negro no país, conhecida por sempre apoiar mulheres negras artistas e lutar contra qualquer forma de preconceito.
Nascida em 23 de junho de 1930 na favela de Moça Bonita, atualmente conhecida como Vila Vintém, na zona oeste do Rio de Janeiro, Elza Gomes da Conceição teve uma vida intensa de luta pela sobrevivência. Aos 12 anos foi obrigada a se casar com um homem 10 anos mais velho, engravidou pela primeira vez aos 13 anos e, depois disso, teve mais três filhos, dos quais dois morreram de fome, já que Elza e o então marido não tinham condições financeiras.
Durante o casamento arranjado, Elza sofreu inúmeras violências físicas e sexuais. Aos 21 anos ficou viúva. Cerca de 10 anos depois, conheceu o jogador de futebol Garrincha, com quem teve uma paixão e um relacionamento conturbado, sendo, mais uma vez, vítima de violência doméstica. Além de todas essas agressões, Elza também foi perseguida pela ditadura militar (1964-1985). Esses foram alguns dos fatos que fizeram a cantora do milênio se tornar um ícone da luta feminina.