Autonomia de mulheres sobre vida sexual e reprodutiva depende de políticas públicas e pode ditar futuro global
Num mundo repleto de desigualdades, o ritmo de crescimento da população global está, ao mesmo tempo, explodindo em alguns territórios e encolhendo em outros, como mostram as projeções da ONU.
O dado por trás dessas diferenças é a taxa de fecundidade, a quantidade média de filhos que as mulheres têm em determinada localidade. No Níger, na África Ocidental, esse índice é de 6,6 filhos, o maior do mundo. No outro extremo está a Coreia do Sul, com taxa de 0,9.
Esse dado, porém, não é necessariamente um reflexo do desejo das mulheres de ter muitos filhos ou de não ter filho nenhum. É, antes, um espelho do desenvolvimento do país e do grau de autonomia e de autodeterminação das mulheres em relação a sua vida sexual e reprodutiva.
“Há locais onde a mulher ainda não pode exercer o direito de controlar sua vida reprodutiva. E fatores como violência sexual e limitação de acesso ao aborto influenciam nesse resultado”, explica a demógrafa Márcia Castro, colunista da Folha e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.
Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o mundo tem uma taxa de gravidez indesejada de 64 casos para cada mil mulheres de 15 a 49 anos. Entre gestantes adolescentes, de 15 a 19 anos, o índice é de 40 a cada mil.
Na demografia, a taxa de fecundidade necessária para repor a população é de 2,1 filhos por mulher. O cálculo, explica o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, é esse: um filho é para repor a mulher, o outro é para repor o homem, e o 0,1 é um excedente necessário porque nem todas as pessoas vão sobreviver até a idade fértil para potencialmente dar continuidade a esse ciclo.