Estudo da Fiocruz e UFMA, o qual o GLOBO teve acesso com exclusividade, mostra ainda que a crise migratória é motivada pela violência na Venezuela e falta de trabalho
Chegou um momento, em dezembro de 2021, que a venezuelana Eliane Milano, de 24 anos, não aguentou mais a fome. Com as fronteiras fechadas devido à pandemia, ao lado do marido e da irmã, ela se submeteu às “trochas” — caminhos clandestinos por onde cruzam milhares de pessoas em busca de vida digna no Brasil.
eguindo um fluxo geracional, Eliane fez uma viagem de quatro dias da Cidade Guayana até Manaus, uma das portas de entrada dos migrantes. As horas que pareciam infinitas no ônibus e os vários quilômetros de caminhada não abalaram o desejo da jovem de encontrar a mãe, Ana María Mendoza, que veio para o Brasil ainda em 2019 em busca de emprego. Do pouco que ganhava como empregada doméstica, metade ia para a filha conseguir fazer as refeições e ainda reservar parte aos “trocheros”, os homens responsáveis pela travessia irregular na fronteira.
— Minha mãe veio para o Brasil com a minha avó. Foram dois anos de tristeza, sem saber como seria a vida, até que decidi migrar também, para tentar uma nova oportunidade e por sentir falta da minha mãe. No começo, as coisas foram muito difíceis aqui por falta de emprego, mas a vida está melhor que antes — recorda.