O site www.maismulheresnopoderbrasil.com.br divulgou a publicação do artigo “Caminhos das Discussões Acadêmicas sobre o Tema de Gênero, Mulheres e Política: Em que Momento Estamos?”, das pesquisadoras Marlise Matos e Danusa Marques, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O artigo tem o mérito de sistematizar informações sobre dissertações e teses defendidas em cursos de pós-graduação do país entre 2000 e 2008. O documento traz também uma análise dos artigos acadêmicos publicados entre 2000 e 2009 sobre o tema “participação das mulheres nos espaços de poder” em dois importantes periódicos da área de estudos de gênero no Brasil – a “Revista de Estudos Feministas” e os “Cadernos Pagu”.
Participação das mulheres é crescente, mas lenta
“Ao longo de 73 anos (1936-2009) a representação feminina passou de 1% para 9%: com todas as intensas e duradouras transformações políticas, econômicas, sociais e culturais ocorridas no Brasil ao longo deste mesmo período, é extremamente desproporcional a participação político-institucional das mulheres, contrastando, inclusive, com a sua significativa presença em outras áreas. As mulheres são hoje, no Brasil, 51,3% da população, totalizam 42,7% da população economicamente ativa, 26,8% são ‘pessoas de referência’ dos domicílios brasileiros, e 51,2% do eleitorado nacional”.
Foram pesquisadas as teses e dissertações defendidas em diferentes áreas do conhecimento registradas no banco de dados da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) no período de 2000 a 2008. Foram selecionadas 385 teses e dissertações, que correspondem a 0,13% do total de produções.
Do total de estudos 76,1% concentram-se no Mestrado e 23,9%, no Doutorado. “A boa notícia fica por conta da constatação de que há uma tendência de aumento das produções especialmente a partir de 2007, podendo sinalizar para o crescimento deste tipo de produção acadêmica”.
As mulheres são as principais pesquisadoras da temática – 90,9% das autorias – e também a maioria das orientadoras de pesquisas: 65,9% nas Dissertações de Mestrado e 68,4% nas Teses de Doutorado.
Segundo as professoras da UFMG, “de maneira geral, grande parte dos artigos trata sobre questões relacionadas aos movimentos sociais, à luta pela efetividade de direitos e por uma cidadania ativa, às reflexões sobre o próprio movimento feminista, ao ativismo para o empoderamento de mulheres e às intersecções entre raça e gênero (especialmente com reflexões sobre os movimentos de mulheres negras), entre outros, o que pode ser observado também dentre as temáticas secundárias apresentadas nos mesmos artigos. O grande número de temáticas vinculadas à ‘teoria feminista’ e às ‘organizações internacionais’ como temáticas secundárias se deve à presença dos Dossiês sobre publicações feministas e sobre o Fórum Social Mundial, ambos publicados pela ‘Revista de Estudos Feministas’”.
Para as pesquisadoras, no entanto, esta feminização da pesquisa é preocupante. “Se entendermos que os desafios que estão envolvidos no estudo e na pesquisa destes importantes temas extrapolam, e muito, uma agenda propriamente feminista, feminina ou das mulheres, se endereçando a problemas políticos e sociais que pertencem a toda a sociedade brasileira e mesmo à qualidade da democracia que se está a construir no país, termos majoritariamente as mulheres focalizando tais problemas pode gerar a já conhecida e recorrente situação de ‘guetificação’ da temática’”.
Fonte: site www.maismulheresnopoderbrasil.com.br