(Géssica Brandino/Agência Patrícia Galvão) Ativistas feministas que lutam em diferentes frentes lotaram o salão nobre da Câmara de Vereadores de São Paulo nesta sexta-feira (27/02) para prestar homenagem a Lurdinha Rodrigues, Rosangela Rigo e Célia Escanfella, que faleceram em um acidente de carro durante o Carnaval. O ato foi também de solidariedade aos familiares presentes. Referências para o feminismo brasileiro, Lurdinha e Rosangela tornaram-se símbolos da luta pela igualdade entre homens e mulheres e pelo enfrentamento a todas as formas de discriminação e violência.
Dor, saudades e muita emoção
Durante a homenagem, autoridades, militantes e amigas lembraram a trajetória de luta de Lurdinha e Rosangela e o legado deixado por elas às mulheres brasileiras.
Amelinha Teles, que apresentou Lurdinha ao movimento feminista em 1977, propôs a realização de formações sobre o legado deixado por ela e Rosangela Rigo e que a homenagem a elas também seja levada aos eventos que marcarão este ano o Dia Internacional da Mulher. “O movimento perde muito e precisa reconhecer essa perda e buscar nas contribuições que elas deixaram, no legado delas, recompor nossas perspectivas e tocar a luta para a frente”.
Outra fala emocionada foi de Jurema Werneck, coordenadora da ONG Criola, que lembrou que “todas as causas eram de Lurdinha” e desabafou: “Eu não sei perder Lurdinha e acho que ninguém sabe. Só posso dizer que a nossa luta continua. Sou uma mulher negra, criada na tradição afro-brasileira que diz que a gente não perde, mas sim devolve para a terra e aquela força volta para a gente. Talvez essa seja a resposta: eu não sei perder Lurdinha porque ninguém vai perdê-la. Ela é parte da força da gente”.
Lurdinha Rodrigues era a coordenadora-geral da Diversidade da Secretaria de Política Para as Mulheres de Política para as Mulheres e Rosangela Rigo esteve à frente da Secretaria de Enfrentamento à Violência como secretária adjunta e havia assumido no início deste ano a Secretaria de Articulação Institucional de Ações Temáticas da SPM.
Em seu discurso durante a homenagem, Eleonora Menicucci, ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, afirmou que aquele ato em São Paulo representava um fecho do luto vivido nos últimos dias para toda a equipe da SPM e do governo federal. “A falta que elas farão é incomensurável. Como militante feminista, como mulher, como mãe, avó, e não como ministra neste momento, quero dizer que a dor é imensa e estamos tendo muita dificuldade para sair deste momento e continuar…”.
“Só posso dizer a imensa alegria que nós, da SPM, tivemos de tê-las conosco, da tristeza de devolvê-las para suas famílias nessa situação, da imensa dor que foi esse processo todo e a imensa força que tivemos, ajudadas por todas vocês. Que a alegria dessas mulheres possa tomar conta do nosso coração, das nossas forças e iluminar nossos caminhos a partir de agora”.
A secretaria adjunta de Enfrentamento à Violência contra as mulheres da SPM-PR, Aline Yamamoto, destacou a dedicação de ambas à luta pelos direitos das mulheres e pelos direitos humanos na construção de uma sociedade mais justa. “O que era um exemplo da Lurdinha e da Rosangela foi a doação da vida por uma causa e isso nós víamos diariamente no trabalho. Elas estavam no governo federal, mas essa era uma causa que extrapolava, era a causa da vida delas. Lutar por um mundo mais justo, com mais igualdade e direitos para as mulheres, e isso era inspirador”.
A deputada federal Luiza Erundina também manifestou sua gratidão pela dedicação de ambas, sem deixar o sonho e a utopia pela qual lutavam. “Este é um momento para homenageá-las e agradecer por tudo que fizeram pela sociedade brasileira e nos comprometer a manter viva a chama que acenderam ao longo destes anos todos e não deixar a peteca cair. Estamos muito sentidas, porque além de militantes da causa eram pessoas muito queridas e presentes na nossa vida. Este é o momento para dividir a dor; e, para quem tem fé, elas continuam vivas nos inspirando e nos mantendo fieis aos compromissos delas”.
A vereadora Juliana Cardozo falou de Lurdinha, Rosangela e Célia como três estrelas, que sempre serão referência na luta por direitos. “Eu as conheci na luta e sempre foram espelhos de que não se deve desistir. Devo a mulheres como elas, que entenderam a importância da participação feminina na política, o fato de estar aqui”.
O deputado Renato Simões e a secretária nacional de mulheres do PT, Laisy Moriére, também fizeram parte da mesa de autoridades, ao lado de familiares de Lurdinha, Rosangela e Célia.
Casa de atendimento levará nome de ativistas
A secretária municipal de políticas para as mulheres de São Paulo, Denise Motta Dau, também prestou homenagem a Rosangela Rigo e Lurdinha Rodrigues. “Elas dedicaram a vida delas à causa feminista nos mais variados espaços: na militância, no partido e na gestão pública. Existe a perda pessoal, da família e amigos, mas também há a perda política, porque lideranças como elas, com dedicação, experiência e compromisso, não se forjam de um dia para o outro”.
Em sua fala, Denise Dau anunciou que, em homenagem a elas, dois novos centros de atendimento às mulheres, um em São Miguel Paulista e outro em Campo Limpo, e uma casa abrigo levarão os nomes de Lurdinha, Rosangela e Celia, como forma de dar continuidade à luta da qual fizeram parte.
Com grande emoção e carinho por Lurdinha, também falaram a presidenta da Liga Brasileira de Lésbicas, Márcia Balades; Jurema Werneck, do Criola; Bia Barbosa, do Coletivo Intervozes; Sônia Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres; e Amelinha Teles, da União de Mulheres de São Paulo. Em homenagem a Rosangela, falaram Bel Mello, Lurdinha Simões e Silvinha. O filho de Célia Maria Escanfella, Pedro, lembrou da luta da mãe como professora e da grande amizade que a unia a Lurdinha e Rosangela. Apresentações de fotos e leitura de poemas também fizeram parte do ato.
Histórico de luta
Rosangela Rigo esteve à frente da Secretaria de Enfrentamento à Violência como secretária adjunta e havia assumido no início deste ano a Secretaria de Articulação Institucional de Ações Temáticas da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência (SPM-PR). Em São Paulo, foi também titular da Coordenadoria da Mulher da Prefeitura de Campinas e atuou na Secretaria de Mulheres, Participação e Descentralização na Prefeitura de Suzano; foi secretária estadual de Mulheres do PT de SP e integrou o Coletivo Nacional de Mulheres do PT. Rosangela também participou da ONG GTPOS/SP (Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual).
Lurdinha Rodrigues era a coordenadora-geral da Diversidade, também na SPM-PR. Ativista feminista, desde jovem lutou contra a ditadura militar e pelas liberdades democráticas no nosso país e foi uma grande defensora dos direitos humanos, principalmente da população LGBT. Atuou na Liga Brasileira de Lésbicas e foi integrante do Conselho Nacional de Saúde e do Instituto Patrícia Galvão.