(Observatório do Direito à Comunicação) A pesquisa “Porque sou uma Menina” (Because I am a Girl), da ONG norte-americana Plan, estudou a relação das meninas com a internet, elegendo “os principais fatores que fazem com que as meninas subaproveitem a tecnologia – e a maior parte das razões surge da desigualdade com que os dois gêneros são tratados no mundo. Desde questões financeiras até a liberdade dispensada pelas famílias exclui as futuras mulheres de um instrumento essencial para a comunicação e trabalho hoje, que é o caso da internet”.
A matéria de Lia Segre, do Observatório do Direito à Comunicação, informa que o estudo, realizado pelo Instituto Internacional para os Direitos e Desenvolvimento da Criança e Adolescente (International Institute for Child Rights and Development), por meio da Parceria para a Proteção da Criança e Adolescente (Child Protection Partnership),
inclui pesquisa realizada no Brasil com 44 meninas e mais de 400 entrevistadas online entre 10 e 14 anos. “Na pesquisa de grupo focal com mães e filhas, ficou evidente que é dada menos liberdade às meninas devido aos temores de seus pais pela sua segurança”, escreve Lia Segre.
Segundo o relatório do estudo, o desejo de proteger as meninas dificulta sua frequência à escola, ir a um cybercafé e chegar à universidade, prejudicando o desenvolvimento do potencial delas.
Entre as brasileiras entrevistadas, 79% afirmaram não se sentir seguras quando estão na internet e metade disse que seus pais não sabem que elas acessam a rede. Quase metade gostaria de ver pessoalmente alguém que conheceu no mundo virtual, mas apenas um terço sabe como relatar um perigo ou algo que as faça sentirem-se mal quando estão conectadas.
“A preocupação é que as tecnologias estão expondo as adolescentes a imagens de violência, exploração e degradação de mulheres em um momento frágil de suas vidas quando estão se desenvolvendo sexualmente. Mundialmente, mais meninas são afetadas pela exploração sexual do que meninos, e uma em cada cinco mulheres foi abusada sexualmente antes dos 15 anos”, diz a matéria.
O documento sugere que governos e sociedades civil implementem ações como: ensinar as meninas a se protegerem, aumentar o acesso e o controle das meninas sobre as tecnologias da informação e sobre as ciências exatas; além de expandir e melhorar mecanismos de proteção online.
Veja a seguir algumas constatações do relatório selecionadas pelo Observatório:
“Discriminação – As meninas ainda são consideradas como cidadãs de segunda classe em muitas sociedades.
Quantidade – Os meninos superam em número as meninas e tendem a dominar o acesso aos computadores.
Confiança – Devido a não terem o mesmo acesso à escola, as meninas se sentem menos confiantes que os meninos quando têm que se envolver em trabalhos de tecnologia porque não sentem que possuem as mesmas habilidades e conhecimentos que os homens jovens que competem pelos mesmos cargos.
Idioma – Para utilizar estas tecnologias, geralmente se requer o inglês, e para as meninas com alfabetização básica em seu próprio idioma, esta é uma barreira importante.
Tempo – As tarefas domésticas das meninas ainda em uma idade precoce significam que têm menos tempo que os meninos para explorar e experimentar as novas tecnologias.
Dinheiro – As meninas têm menos probabilidades que seus irmãos de obterem recursos financeiros para pagar, por exemplo, por um telefone celular e seus custos operacionais, ou para ter acesso à web em um cyber café.
Liberdade – Os meninos também possuem mais probabilidades de que lhes seja permitido usar o cyber café porque os pais se preocupam quando suas filhas saem sozinhas.”
Leia o resumo dessa pesquisa em português ou o relatório completo em inglês no site do Observatório.
Acesse a matéria na íntegra: Desigualdade exclui mais meninas que meninos do mundo digital (Observatório do Direito à Comunicação – 30/09/2010)