“As mulheres sumiram do poder”, dizem feministas

01 de setembro, 2016

Com o impeachment, especialistas criticam a ausência feminina em cargos de liderança no governo, mas afirmam que Dilma Rousseff também não fez muito por elas. “Precisamos continuar querendo participar da vida política do país”

(Marie Claire, 01/09/2016 – acesse no site de origem)

O processo de impeachment que destituiu, nesta quarta (31), Dilma Rousseff joga luz sobre uma questão vultuosa: o que a queda da primeira presidente mulher significa para o movimento das mulheres? Marie Claire ouviu três ativistas do movimento feminista para saber a opinião delas.

“Essa queda implica em uma ofensiva conservadora com caráter misógino e patriarcal”, diz Guacira Cesar de Oliveira, diretora do Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria. “E a formação de um novo quadro ministerial composto exclusivamente por homens é a evidência de um retrocesso.” O movimento das mulheres, das feministas, diz, vinha em uma ofensiva de avanço que deverá ser impactada.

A antropóloga Débora Diniz, do Instituto Anis de Bioética e defensora da legalização do aborto, concorda. “A saída de Ela Wiecko [da Procuradoria Geral da República], no dia 31, porque participou de um protesto contra o atual governo é significativa. Mostra a fragilização intensa da representação das mulheres na hierarquia do poder”.

Leila Linhares Barsted, advogada, coordenadora-executiva da Cepia (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação) e feminista, é mais otimista. “A eleição de uma mulher pelo voto popular foi extremamente emblemática e precisa servir de exemplo para novas gerações de mulheres que queiram pleitear posições de destaque no mundo da política”, afirma.

“Precisamos continuar querendo participar da vida política do país, mesmo sabendo que estaremos adentrando um ambiente ainda hostil a nós mulheres. Temos que furar o bloqueio.”

BALANÇO DO GOVERNO DILMA

“Não tenho dúvidas de que queria deixar um legado mais positivo às mulheres”, reconheceu a ex-presidente em entrevista recente à Marie Claire. Ao ser indagada sobre aborto e equiparação salarial entre gêneros, fez um mea-culpa.

“A gente nunca esteve satisfeita no sentido de achar que estávamos vivendo em um paraíso”, comenta Guacira, sobre as ações da ex-presidente no que diz respeito às mulheres.
Para Leila, “houve uma timidez do governo Dilma em não enfrentar a bancada fundamentalista do Congresso na discussão dos direitos sexuais e reprodutivos”. Ambas reconhecem, no entanto, a importância da aprovação da Lei do Feminicídio – que tornou crime hediondo e inafiançável o assassinato da mulher pelo fato de ser mulher -, e da PEC das Domésticas.

Daniela Carasco

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