Segundo levantamento, 81% concordam que esse deveria ser o tema mais debatido pela sociedade
(Universa, 04/10/2019 – acesse no site de origem)
De todos os desafios enfrentados pelas mulheres no Brasil, acabar com o desrespeito e a violência de gênero é considerado, hoje, o maior deles. É o que dizem sete em cada dez entrevistadas ouvidas em uma pesquisa feita para Universa pelo instituto de pesquisa Catapani & Associados e pela consultoria de marketing e comunicação ID Rock.
O levantamento consultou 1.000 mulheres das classes A, B e C entre 18 e 60 anos de todo o país. Mesmo com diferenças de idade e classe social, o tema da violência contra a mulher é considerado o de maior importância por todas: 81% delas consideram que esse é também o assunto que mais deveria ser debatido pela sociedade.
Na sequência de temas prioritários aparecem saúde da mulher, com 43%, padrões estéticos e comportamentais, com 30%, desigualdade salarial, com 26%, e igualdade de mulheres em altos cargos e cargos políticos, com 20%.
“É uma constatação triste. Enquanto em vários países mulheres querem debater outras questões ligadas à emancipação feminina, como salário, no Brasil a gente tem que discutir o direito de não morrer, de não ser estuprada, de não jogarem ácido no nosso rosto. É muito violento”, diz a promotora de Justiça Silvia Chakian, integrante do Gevid (Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica) do Ministério Público de São Paulo.
Por outro lado, afirma Silvia, o resultado da pesquisa mostra um amadurecimento da sociedade. “A violência contra a mulher entrou na pauta do dia. Há maior percepção da gravidade do problema”, diz. “Pelo menos até a criação da Lei Maria Penha, em 2006, a questão era invisível, ia para debaixo do tapete.”
Ainda que a violência seja uma preocupação de mulheres de diferentes classes sociais, a promotora destaca que há especificidades para cada grupo. “Quando elas dizem, na pesquisa, que o tema da violência é importante, cada uma fala da sua experiência. Temos que reconhecer que mulheres negras sofrem violências que as brancas não vivenciam por causa do racismo”, afirma. “Assim como lésbicas passam por situações que mulheres heterossexuais não vivem, e mulheres da periferia passam por opressões que não atingem as das classes mais favorecidas.”
Sobrecarga e mercado de trabalho: outras grandes batalhas
A sobrecarga física e mental é outra grande batalha que as entrevistadas dizem enfrentar. Quando questionadas sobre como se sentiram fisicamente nos últimos seis meses, 43% responderam que não estavam bem nem mal. A maioria, 73%, acredita que os desafios diários são impostos por elas mesmas. E 75% gostariam de ter mais tempo para o descanso mental.
A ansiedade é o sentimento mais presente no dia a dia, segundo 51% das participantes da pesquisa. Esse tipo de emoção intensa se reflete em outros números: 44% delas se mostram preocupadas, e 38% se dizem estressadas. Em relação aos sentimentos positivos, 46% se declaram agradecidas, e 36%, esperançosas.
Em relação à ocupação, 60% trabalham e 37% estão desempregadas. Entre as economicamente ativas, 29% trabalham em período integral, 10% em meio período e 21% em casa, de forma autônoma ou contratada em uma empresa. A maioria, 63%, diz que está feliz com a carreira. E apenas 7% têm preocupação com o cargo que ocupam. Os itens mais importantes para elas são realização no trabalho (26%) e salário/benefícios (23%). As queixas relacionadas a esse tema têm relação com a falta de divisão das tarefas domésticas e da maternidade —deixando mulheres que trabalham fora sobrecarregadas— e desigualdade salarial.
Relação amorosa é a última preocupação
Na lista de objetivos que as entrevistadas esperam alcançar no próximo ano, os relacionamentos amorosos aparecem em último lugar, como objetivo de apenas 25% delas.
Na primeira posição, saúde e bem-estar aparecem como metas para 72% das mulheres. Outros focos citados na pesquisa são família (67%), profissão e carreira (61%), dinheiro e aquisições (56%) e lazer e viagens (56%).
Quem elas querem ser?
Independente financeiramente. Esse é o perfil que 44% das entrevistadas almejam ter. Algumas gostariam de ser a que não se estressa com nada — 17% delas citaram essa característica. Em seguida vem a que tem uma história de vida incrível (12%) e a que tem hábitos saudáveis (9%).
Ambições e dinheiro
Questionadas sobre o direcionamento da renda, 35% das entrevistadas responderam que seu foco é oferecer melhores oportunidades para a família; 24% afirmaram que preferem aproveitar as diversas experiências da vida, e a mesma porcentagem respondeu que poupa para ter um futuro mais tranquilo. Apenas 14% delas responderam que ganham dinheiro para gastar com bens materiais.