‘Não fala de vagina perto de mim’: por muito tempo, relevamos as desqualificações das mulheres e do feminino feitas por parte dos homens gays. Não mais.
Se eu gostasse de mulher, tinha virado ginecologista.
A lei da gravidade é um crime contra a mulher.
OS CARAS GAYS “ENGRAÇADOS”, geralmente brancos que demonstram uma certa ojeriza ao sexo feminino, são um tipo social muito comum na cultura pop contemporânea. O personagem Felix “Bicha Má” (interpretado por Mateus Solano), da novela “Amor à Vida”, é um exemplo fácil em terras brasileiras – são dele as frases que abrem esse texto. Mas esse rapaz de língua afiada que endereça boa parte de sua acidez às mulheres, incluindo amigas e parentes, nunca habitou somente as telas: ele é uma presença comum em nosso cotidiano.
Ai, não fala em vagina perto de mim, fico todo empelotado.
Minha nossa, essa cantora era linda, mas envelheceu e embarangou.
Sai daqui, que nem de racha eu gosto.
Não posso precisar quantas vezes ouvi frases desse naipe vindas de colegas homens gays. Durante muito tempo, essas maneiras de desqualificar mulheres – em que se pese o certo desconforto sentido por toda pessoa que é reiteradamente alvo de preconceito –, foi endossada e repercutida por nós mesmas. As ofensas revestidas de “eu estava só brincando” naturalizaram largamente essas formas de desqualificação, mas a boa notícia é que, em um ambiente no qual o feminismo ganhou espaço, o que parecia ser apenas uma gongação é hoje nomeado pela palavra certa: misoginia.