(O Globo, 17/12/2014) Cerca de cem pessoas participaram nesta quarta-feira do ato “Nenhuma mulher merece ser estuprada” na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro. Os manifestantes, majoritariamente compostos por mulheres, pediam a cassação do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), em função de suas recentes declarações, e o reforço das políticas de proteção à mulher. Convocado por ativistas e grupos políticos através das redes sociais, o evento ocorreu simultaneamente em Brasília, São Paulo e Salvador.
Na semana passada, Bolsonaro causou polêmica ao dizer à deputada Maria do Rosário (PT-RS), durante discurso no plenário da Câmara, que não a estupraria porque ela “não merece”. O ataque, que causou repercussão nas redes sociais, ocorreu quando a ex-ministra dos Direitos Humanos deixava o recinto.
— Isso é um crime, com incitação à violência e ao ódio. Quando ele falou isso, atingiu a todas as mulheres brasileiras — disse a secretária de mulheres da Central Única dos Trabalhadores do Rio, Virginia Berriel. — Não podemos ficar indiferentes diante de uma situação como esta. Precisamos combatê-la veementemente.
O Conselho de Ética da Câmara abriu processo nesta terça-feira para investigar se Bolsonaro quebrou o decoro parlamentar em sua atitude. Mas diante do início do recesso de fim de ano que se aproxima, feministas temem que o processo seja arquivado.
— É por isso que temos que fazer todas as manifestações possíveis. Não podemos deixar que esse episódio caia no esquecimento — destacou a diretora regional do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação, Carla Wendling.
Integrante da Marcha Mundial de Mulheres, a estudante Ingrid Figueiredo chamou atenção para a forma como a declaração dele vem sendo relativizada por algumas pessoas, desviando o foco:
— O que ele disse foi chocante. Ele tem completa consciência do que falou. E isso é só a ponta do iceberg de um projeto político conservador que o deputado defende, que prejudica outras pautas como racismo e causa LGBT.
PERFORMANCE PALEOLÍTICA
Em meio à manifestação, a artista Luciana Pedroso executou a performance “Escultura viva da Vênus de Willendorf”, em que se apresentou com o corpo coberto por argila, simulando a estatueta pré-histórica. Citando o período paleolítico, ela queria relembrar tempos em que a mulher era considerada sagrada.
— Mesmo depois de tantas revoluções, as mulheres eram mais bem tratadas no paleolítico — disse.
Eduardo Vanini
Acesse o PDF: Manifestantes pedem cassação de Bolsonaro após frase dita por ele à deputada Maria do Rosário (O Globo, 17/12/2014)