Com gestações de risco e crianças adoecidas, garimpo ilegal de ouro coloca em risco futuras gerações na Amazônia
A descoberta de uma doença pode ser desgastante e durar meses entre idas e vindas às unidades de saúde. Agora, imagine que esse adoecimento é fruto de um garimpo ilegal praticado no quintal da sua casa; que seus filhos e os peixes (principal fonte alimentar) estão contaminados pelo mercúrio usado para separar e extrair ouro.
Gilmara Akay, 28 anos, da aldeia Sawré Muybu, na região do Tapajós, no Pará, sente que a vida não é mais a mesma depois que ela soube que tem mercúrio espalhado no próprio sangue. “Eu tenho vários problemas por isso. Essa contaminação mexeu muito com o nosso cérebro”, reclamou.
Sem serviços públicos de saúde especializados para testagem e acompanhamento em territórios indígenas, a certeza da contaminação é uma condenação para esses povos. Mulheres sentem no corpo os efeitos do contágio há décadas e convivem com problemas crônicos de saúde.
Em novembro de 2022, Gênero e Número e AzMina somaram esforços para apurar essa doença silenciosa e ainda sem nome que ameaça mulheres, gestações e gerações futuras.
As imagens chocantes da desnutrição na Terra Indígena Yanomami, que circularam neste início de 2023, mostram apenas um dos impactos brutais do garimpo ilegal na floresta amazônica. Além da fome, o adoecimento de indígenas nos estados de Roraima, Pará e Amapá foi agravado por um mal fruto da atividade garimpeira: a contaminação de mercúrio.
A crise na saúde indígena se aprofundou nos quatro anos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e exigirá a reconstrução de órgãos federais e a capacitação de profissionais para atender a demanda histórica de povos contaminados pelo metal pesado.
O Garimpo ilegal põe em risco ao menos 13 mil indígenas Mundurukus e Kayapós, além de 28 mil Yanomamis.