O mundo da moda pode parecer que está muito mais democrático do que alguns anos atrás, mas, mesmo com um movimento para abranger diversos tipos de beleza em editoriais e campanhas, ainda há um padrão de beleza a ser atendido e é preciso ralar bastante para ser modelo, inclusive plus size.
(UOL, 13/09/2016 – acesse no site de origem)
Há quem acredite que para trabalhar para marcas de tamanhos grandes basta ser gordinha e não se preocupar com a balança, porém não é bem assim. A modelo Mayara Russi, 27, por exemplo, atua no mercado desde os 15 anos. Chegou a vestir o número 60, mas precisou perder 60 kg para conseguir mais trabalhos. “Nem mesmo as lojas que tinham roupas do meu tamanho me contratavam porque achavam que elas não estavam caindo bem”, narra.
Para manter a silhueta que lhe garante mais oportunidades, Mayara tem uma dieta regrada e pratica exercícios. “Porque, independentemente de sermos plus size ou não, as marcas querem trabalhar com mulheres que pareçam com a saúde em dia”, explica.
Esta busca acaba limitando o manequim das modelos plus size. “Muitas grifes temem ser acusadas de apologia à obesidade”, conta Adilton Amaral, da Haz Produções, responsável pela organização do desfile Mulheres Reais. Segundo o empresário, as marcas costumam escalar mulheres entre os tamanhos 46 e 52, mesmo que elas disponibilizem peças com medidas maiores.
A preocupação é legítima, mas pode ser uma faca de dois gumes. Já que, levando isto em consideração, algumas grifes acabam contratando mulheres menores do que o público que consome produtos de tamanhos grandes. “Quando eu era modelo e usava 44, tinha uma rejeição muito grande. Agora eles estão buscando modelos mais magras”, fala Renata Poskus, organizadora do Fashion Weekend Plus Size e dona do blog “Mulherão”.
Curvas ou plus size?
Adilton Amaral diz que, no mercado fashion, uma pessoa pode ser considerada plus size a partir do manequim 44. “Já que existe uma dificuldade para estas mulheres encontrarem roupas em lojas convencionais”, declara.
A gigante agência Ford Models Brasil anunciou, há alguns meses, que teria um segmento plus size. Porém, quando a reportagem entrou em contato com a assessoria, a empresa disse que eles estavam inaugurando o segmento Curvas, com modelos a partir do manequim 42 como Fabiana Saba e Nathalia Novaes. Uma das razões seria a resistência de clientes em contratar mulheres maiores. “É um termo mais abrangente. Não tem nada de errado com plus size, mas não queríamos nos limitar a apenas um segmento do mercado. Além disso, há muita controvérsia sobre quando uma modelo passa ou não a ser plus size”, explica a diretora da agência, Denise Céspedes.
Este movimento, de acordo com Renata Poskus, ajudou a “emagrecer” o mercado de tamanhos grandes. “Já vi uma grande magazine anunciando lingeries a partir do 46 usando uma menina que vestia 42. Pode usar modelos menores, mas é preciso ser honesto”, arremata.
Mas, fora o tamanho da calça, mulheres plus size que querem ingressar no mercado da moda também precisam atender a um certo padrão de beleza. “Precisam ser curvilíneas, ter quadril e bustos proporcionais e cintura fina, sem barriga aparente. Sem muita celulite”, enuncia Poskus. Renata, que também tem uma grife, garante que esta exigência é uma questão prática. “A roupa cai melhor. Como muitas vezes fazemos desfiles com peças piloto, não precisamos ficar fazendo tantos ajustes”, diz.
A altura, por sua vez, não tem tanta importância quanto no mercado de modelos convencionais. “Em geral, o ideal é pelo menos 1,70m, mas entendemos que cada modelo é única e dificilmente a altura seria um problema para alguém com muito potencial”, esclarece Denise Céspedes.
Renata aponta que, além da flexibilidade de estatura, o mercado plus size também é muito democrático em relação à idade das mulheres. “Vemos modelos que fazem muito sucesso aos 40 anos, por exemplo”, comemora. Ainda assim, eles procuram um “ideal de beleza” porque, assim como as meninas magras, as gordas também gostam de “sonhar”. “A gente trabalha com projeção. As mulheres falam que gostariam de ver pessoas como elas na passarela, mas, quando colocamos, o produto é rejeitado e os lojistas querem vender”, fala.
A diferença, de acordo com Denise, é que no segmento das mulheres curvilíneas os limites de um padrão de beleza são muito mais abrangentes. “A gente acredita que o ‘sonho’ pode vir em vários tamanhos. Um ideal de beleza não é singular, existem vários tipos e não acreditamos que um seja ‘melhor’ do que o outro, são simplesmente diferentes”, conclui.