Em 2020, valor destinado pelo SUS para procedimentos como biópsias caiu 26% em relação a 2019; mamografias tiveram redução de 40%. Médicos apontam redução de demanda e alertam que impacto maior entre pacientes ainda está por vir. Confira a 1ª reportagem do levantamento de dados inédito da GN em parceria com o Instituto Avon
(Gênero e Número | 27/09/2021 | Por Aline Gatto Boueri, Maria Martha Bruno e Natália Leão *)
Em março de 2020, quando o Brasil registrava seus primeiros casos de infecção por covid-19, a projetista de móveis e vendedora autônoma Luciane Grava de Oliveira, de 45 anos, percebeu um pequeno nódulo no seio esquerdo.
Naquele mesmo mês, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) emitiu nota técnica em que recomendava que profissionais de saúde orientassem as pessoas a não procurar os serviços de saúde para rastreamento, mesmo que estivessem dentro da população alvo — no caso do câncer de mama, mulheres de 50 a 69 anos, que devem realizar mamografia a cada dois anos.
Em abril, Luciane notou que o nódulo havia aumentado de tamanho e buscou um posto de saúde de São Bernardo do Campo (SP) para agendar uma consulta com ginecologia. Ela só conseguiu estar com o especialista na segunda quinzena de maio. Na ocasião, foi encaminhada para a realização de uma ultrassonografia de mama, exame que conseguiu fazer em 2 de julho, quase dois meses após a consulta inicial. Duas semanas depois, Luciane também fez uma mamografia.
Enquanto Luciane realizava seus primeiros exames de diagnóstico, o Inca publicou uma nova nota técnica, em que recomendava o retorno de ações de rastreamento de câncer a partir de uma avaliação de riscos e benefícios em relação à situação de contágio pelo vírus Sars-CoV-2 em cada unidade federativa.
*Aline Gatto Boueri é repórter colaboradora, Maria Martha Bruno é diretora de conteúdo e Natália Leão é coordenadora de dados da Gênero e Número. Esta matéria foi realizada em parceria com o Instituto Avon.