A eleitorada, por Antonia Pellegrino e Manoela Miklos

20 de agosto, 2018

O voto feminino compõe um grupo de pressão que pode decidir as eleições de 2018 e definir os rumos do país

(Folha de S.Paulo, 20/08/2018 – acesse no site de origem)

De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nós mulheres representamos 52% do eleitorado brasileiro. E de acordo com as pesquisas de opinião, nós estamos descrentes e pessimistas diante das eleições que começaram oficialmente na semana passada.

O Datafolha, em pesquisa publicada em junho, atestou que nós mulheres constituímos a maioria dos votos brancos, nulos e indecisos. A pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira —resultado da parceria do Ibope e da Confederação Nacional de Indústrias e lançada no início de agosto— comprovou que essa tendência segue ganhando corpo.

O pessimismo diante das eleições deste ano segue cada vez maior entre as mulheres. Comparando o eleitorado feminino e masculino, o próprio interesse na eleição é mais baixo entre nós. Índices de indecisão continuam mais altos e a propensão em votar nulo ou em branco segue maior. Ou seja, a cada pesquisa divulgada, os números parecem revelar uma realidade inequívoca. Mulheres céticas e ainda incertas a respeito do seu voto podem decidir as eleições de 2018.

Diante desse cenário, vemos candidatas e candidatos se articulando para impressionar o eleitorado feminino. Vemos pautas que historicamente nos são caras, como a equiparação salarial, serem tema de discussões acaloradas nos debates entre presidenciáveis.

Vemos chapas se esforçando para, ao menos formalmente, parecerem mais diversas e terem mulheres como candidatas a vice. Vemos materiais de campanha produzidos em roxo, cor que o movimento de mulheres sempre utiliza em suas comunicações, e rosa.

Contudo, enganam-se os que acham que seremos seduzidas por pequenos ajustes estéticos, pela escolha de candidatas à vice que só aparecem silenciosamente no fundo das fotos promocionais e nada significam no que tange à transcendência da nossa falta de representatividade, ou pela menção superficial a agendas que são centrais para as mulheres brasileiras sem propostas claras para nós. Tudo isso é insuficiente. Nada disso nos satisfaz.

A própria pesquisa do Ibope e da CNI mencionada acima oferece algumas dicas para quem realmente quiser nos ouvir. O desemprego é o problema mais citado pelas mulheres entre os principais problemas do país. Das mulheres ouvidas, 57% mencionaram essa opção enquanto a corrupção apareceu no topo das preocupações dos homens.

Quanto às prioridades que devem mobilizar o próximo governo, mulheres preocupam-se especialmente com mudanças sociais (em especial melhorias na saúde, na educação, na segurança pública e a redução da desigualdade).

Homens mais uma vez indicam que a prioridade deve ser a punição de corruptos. Além dessas pautas, evidentemente, mulheres se preocupam com avanços em matérias que consagradamente nos afetam, como o combate à violência contra a mulher.

A classe política precisa aprender a nos escutar e nos dar voz. Da nossa invisibilidade nasce a nossa descrença. Da nossa ausência nasce nosso ceticismo, nossa indecisão. Por outro lado, precisamos também nos ouvir umas às outras. E nos compreender como mais do que o eleitorado feminino. Nos compreender como a eleitorada. Um grupo de interesse que pode definir os rumos do país.

Um grupo de pressão que deve seguir conectado para além de 2018, cobrando a arquitetura de soluções para os problemas que nos afligem. A nossa longa história de silenciamento conformou o passado. O eleitorado feminino pode determinar o presente. A eleitorada pode moldar o futuro.

Antonia é escritora e roteirista. Manoela é assistente especial do Programa para a América Latina da Open Society Foundations. Feministas, editam o blog #AgoraÉQueSãoElas.

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