(Folha de S.Paulo) O marqueteiro da campanha da presidente eleita Dilma Rousseff,
- O equivoco da oposição em menosprezar o valor pessoal e o potencial de crescimento de Dilma Rousseff e, também, a capacidade de transferência do presidente Lula.
- O caso Erenice levou a eleição para o 2º turno.
- O desafio de fazer Dilma conhecida e mostrá-la como uma candidata original, independente, com ideias próprias e, ao mesmo tempo, “umbicalmente” ligada a Lula.
- O que mais facilitou na campanha foram as lendas equivocadas que foram construídas pela oposição sobre a candidata Dilma e apoiadas por alguns setores da mídia.
Frases
“As questões do aborto e da suposta blasfêmia foram apenas vírgulas que ajudaram a nos levar ao segundo turno”
“O caso Erenice foi o mais decisivo porque atuou de forma dupla: reacendeu a lembrança do mensalão e implodiu a moldura mais simbólica que estávamos construindo da competência de Dilma, a Casa Civil”
“Na pré-campanha de 2010, houve um erro porque menosprezaram o valor pessoal e o potencial de crescimento de Dilma e, também, a capacidade de transferência de Lula. É o período da arrogante, equivocada e elitista ‘teoria do poste’.”
“Não subestimem Dilma Rousseff”
Trechos da entrevista
O que mais facilitou e atrapalhou o trabalho?
João Santana – O que mais nos ajudou foram as lendas equivocadas que a oposição foi construindo sistematicamente.
No início, construíram quatro lendas eleitorais: que Lula não transferia voto, que Dilma ia ser péssima na TV, que Dilma ia ser um desastre nos debates e que, a qualquer momento, iria provocar uma gafe irremediável nas entrevistas. Nada disso ocorreu, muito pelo contrário.
Construíram, pelo menos, quatro lendas biográficas: que Dilma tinha um passado obscuro na luta armada, que era uma pessoa de currículo inconsistente, que teve um mau desempenho no governo Lula, e que o fato de ter tido câncer seria fatal para a candidatura.
E construíram lendas políticas. As principais eram que Dilma não uniria o PT, não teria jogo de cintura para as negociações e que não saberia dialogar com a base.
Outra vez, tudo foi por terra. Gostaria adiante de comentar sobre novas lendas equivocadas que já começam a construir sobre o futuro governo Dilma.
Na fase final, a oposição apostou numa guerra moral e religiosa, no mundo da ética e dos valores. Isso não atrapalhou?
João Santana – De forma irreversível, não. Acho, inclusive, que no final o feitiço virou mais contra o feiticeiro. As questões do aborto e da suposta blasfêmia foram apenas vírgulas que ajudaram a nos levar para o segundo turno. Repito, apenas vírgulas.
O caso Erenice foi o mais decisivo porque atuou, negativamente, de forma dupla: reacendeu a lembrança do mensalão e implodiu, temporariamente, a moldura mais simbólica que estávamos construindo da competência de Dilma, no caso a Casa Civil. Por motivos óbvios, vínhamos ressaltando, com grande ênfase, a importância da Casa Civil. Na cabeça das pessoas, a Casa Civil estava se transformando numa espécie de gabinete paralelo da presidência. E o escândalo Erenice abalou, justamente, esse alicerce.
Voltando à questão da moral religiosa: como a oposição abusou da dose, provocou, no final, rejeição dos setores evangélicos que interpretaram o fato como jogada eleitoral e afastou segmentos do voto independente, principalmente de setores da classe média urbana, que se chocou com o falso moralismo e direitização da campanha de Serra.
O que são as “novas lendas equivocadas” sobre Dilma?
João Santana – Eu acho necessário um humilde alerta: não subestimem Dilma Rousseff. Esse alerta vale tanto para opositores como para apoiadores da nova presidente.
Já começam a pipocar análises apressadas de que Dilma dificilmente preencherá o grande vazio sentimental e simbólico que será deixado por Lula. Bobagem.
A ausência de Lula deixa uma espécie de vazio oceânico. Lula é uma figura única, que uma nação precisa de séculos pra construir. Mas Dilma, em lugar de ser prejudicada por esse vazio, será beneficiada por ele.
(…) Há na mitologia política e sentimental brasileira uma imensa cadeira vazia, que chamo metaforicamente de “cadeira da rainha”, e que poderá ser ocupada por Dilma. A República brasileira não produziu uma única grande figura feminina, nem mesmo conjugal. Dilma tem tudo para ocupar esse espaço. O espaço metafórico da cadeira da rainha só foi parcialmente ocupado pela princesa Isabel.
Acesse a reportagem: Caso Erenice provocou o 2º turno, diz marqueteiro (Folha de S.Paulo – 07/11/2010)
A entrevista de João Santana está disponível na íntegra em folha.com.br/po826409
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‘Dilma Rousseff sou eu, a Dilminha é Dilma Vana’ (O Globo – 07/11/2010)