(revista Claudia) Em sua edição de janeiro a revista traz reportagem em que aponta alguns dos desafios a serem enfrentados pela presidenta Dilma Rousseff:
“Depois de 121 anos de República e de 39 homens, Dilma Rousseff, 63 anos (completados em 14 de dezembro), é a primeira mulher a chegar ao mais alto posto na nação. O feito tem um peso histórico inestimável e pode, dependendo dos acertos de Dilma, mudar a mentalidade e a cultura de preconceito e de exclusão, ainda fortes na nossa sociedade. Ser a presidenta, no feminino, é ir além da honestidade e da competência, porque esses atributos não são exclusividade de gênero e deveriam servir de pilar a qualquer administração pública. Para que o seu governo se projete como uma obra de mulher, ela precisa ter um olhar para as dificuldades das brasileiras. ‘Ocupar cargos não é exercer o poder’, afirmou a socióloga Luiza Bairros, secretária de Promoção da Igualdade Racial da Bahia, dias antes de ser sondada para um ministério no novo governo. ‘Como mulher no poder, estou levando poder a outras que, por suas ações, podem mudar a condição de vida de todas as brasileiras.'”
Nos olhos das meninas
“Logo após a vitória, com 55,7 milhões de votos, 12 milhões a mais que o adversário, José Serra, ela registrou em discurso o compromisso: ‘Honrar as mulheres brasileiras para que esse fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda a sociedade’ (…) Gostaria muito que os pais e as mães de meninas olhassem nos olhos delas e lhes dissessem: ‘Sim, a mulher pode!’”
“Para Schuma Schumaher, coordenadora da Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh) e autora do livro As Herdeiras das Sufragistas, ainda inédito, não existe diferença de gênero quando se trata de caráter e retidão. Mas histórica e socialmente, a arrumação, o zelo e o pendor para corrigir o que está torto são atributos femininos. Essa cultura, somada ao fato de a mulher não ter o vício da velha política, até aqui em mãos masculinas, pode levá-la a governar de forma inovadora e ética.”
Governo de mulher
“‘Nunca perguntaram que cara o governo dos homens deve ter, mas já sabemos como são as ações deles no poder. O desconhecido é o jeito feminino de comandar o país’, diz a deputada Benedita da Silva, que governou o Rio de Janeiro por nove meses, em 2002. ‘Mas não é apenas um gênero que chegou à Presidência, não é uma mulher qualquer. Dilma reúne qualidades para ir além do que Lula realizou.’ Ela afirma que mulher tem dificuldades no mundo machista da política, mas usa estratégias – só nossas – na abordagem dos opositores. ‘Estamos liberadas para dizer coisas que, sob o código masculino de conduta, os homens não dizem.'”
Copiar de quem
“A socióloga Fátima Pacheco Jordão recorre ao presidente Obama para comparar: ‘Ele ainda não respondeu às reivindicações dos negros americanos, com quem se comprometeu. Dilma, ao contrário, deixou clara a sua condição feminina ao discordar de Lula, para quem interferir nas leis sobre apedrejamento de mulheres seria ‘ avacalhar’ o Irã’. Fátima se refere à entrevista ao The Washington Post, em que Dilma critica o Brasil por não apoiar, na ONU, a resolução que condena a violação dos direitos humanos no governo Ahmadinejad. ‘Eu me sentiria desconfortável, como uma mulher eleita presidenta, em não dizer nada contra o apedrejamento’, declarou ao jornal americano. ‘Não concordo com práticas medievais contra as mulheres. Não vou fazer nenhuma concessão nessa matéria.'”
Voto masculino
“O professor Luis Felipe Miguel, do Instituto de Ciência Política da UnB, não acredita que Dilma, sozinha, consiga revogar o caráter sexista da política. Ele se refere à baixa representação na Câmara (45 deputadas), no Senado (12) e nos estados (duas governadoras). ‘Quando a mulher aparece, ainda soa como se estivesse fora do seu lugar, a esfera doméstica’, disse ele no seminário Mulher e Mídia, promovido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, Instituto Patrícia Galvão e Unifem. O Consórcio Bertha Lutz monitorou a cobertura jornalística em 14 estados no período eleitoral. De 3 372 reportagens, 1,6 mil falavam sobre aborto e, na maioria dos casos, com viés preconceituoso. ‘Apenas 7% das notícias fizeram menção a políticas públicas relacionadas à mulher’, comentou Jacira Melo, mestra em ciências da comunicação. No entanto, o professor José Eustáquio Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, chamou a atenção para uma revolução silenciosa. ‘Os homens já têm grande compreensão do papel da mulher no poder. No primeiro turno, dois terços dos votos foram dados a Dilma e a Marina Silva. Em nenhum lugar do mundo se viu algo igual.'”
Carta para Dilma
“A equipe de CLAUDIA preparou um documento com 12 temas importantes para o fim das desigualdades entre homens e mulheres. Entre eles, trabalho, direitos reprodutivos, saúde, educação, participação na política. Ao celebrar 50 anos de existência – cinco décadas inspirando e testemunhando a luta das brasileiras por autonomia –, a revista oferece essa contribuição para que a chefe da nação governe incluindo, sempre, as mulheres. A Carta de CLAUDIA para a presidenta Dilma Rousseff será entregue numa audiência em Brasília. Para elaborá-la, convidamos 3 milhões de mulheres para dar ideias e sugestões no nosso site. Também consultamos especialistas, lideranças feministas, empresárias, educadoras e organizações que defendem os direitos da mulher.”
Veja essa reportagem na íntegra: Os desafios de Dilma Rousseff / Nos olhos das meninas / Governo de mulher / Copiar de quem / O clube da brasileira / Voto masculino / Carta para Dilma (Claudia – janeiro/2011)