(Veja.com) Reportagem da Veja sobre as candidaturas de duas mulheres à Presidência e o papel do voto feminino nestas eleições destaca a opinião da socióloga Fátima Pacheco: “As mulheres não querem somente números e realizações. Elas querem a certeza de que haverá cumprimento do que é prometido, querem ser protagonistas e têm enxergado essa virtude em quem é como elas”.
“Primeira colocada nas pesquisas, Dilma apostou todas as fichas no voto feminino. A estratégia deu certo e não foi montada à toa. As mulheres representam mais da metade (52%) do eleitorado brasileiro, de 135 milhões de pessoas. São 70 milhões de votos.”
Veja.com procurou diversos especialistas, que foram “unânimes em garantir que as mulheres tendem a votar em outras simplesmente por serem mulheres. Porém, o crescimento da petista entre o público feminino indica que apostar em uma campanha direcionada a elas pode fazer a diferença”.
Em mais uma tentativa de conquistar as mulheres, a equipe da campanha de Dilma Rousseff passou a chamá-la de “a primeira presidenta do Brasil”. “Não foi uma simples mudança gramatical e de imagem, eles perceberam que havia esse vácuo na representação feminina na política e apostaram nisso”, analisa a socióloga do Instituto Patrícia Galvão, Fátima Pacheco Jordão.
Logo na primeira semana de propaganda eleitoral na TV, o programa de Dilma apelou para a história familiar da candidata. “Essa questão da família tem um peso muito grande, é uma instituição muito forte no mundo ocidental”, diz Rui Tavares Maluf, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Até a passagem de Dilma Rousseff pela guerrilha na época da ditadura foi usada em benefício de sua imagem. “Com depoimentos de amigas dela, a guerrilheira virou guerreira. Conseguiram transformar o fator negativo da luta armada em fator positivo”, analisa Fernanda Feitosa, cientista política e consultora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea).
A pesquisa Datafolha de 25 de agosto, já mostrou Dilma com 15 pontos porcentuais a mais que Serra entre as mulheres. Uma das explicações para a mudança repentina nas intenções de voto baseia-se no fato, já comprovado em eleições anteriores, de que as mulheres demoram mais para decidir seu voto. O último Datafolha aponta que 10% delas ainda não sabem em quem votar, enquanto 5% dos homens não tomaram uma decisão. “Boa parte das mulheres espera os programas eleitorais na TV, porque é nessa etapa que as campanhas passam a tratar de temas cotidianos e trazem características pessoais dos candidatos”, explica Fátima Jordão.
Todos os especialistas ouvidos pela Veja concordam que o principal motivo da reviravolta em favor de Dilma nas pesquisas foi ter ficado claro que ela é a candidata do presidente Lula. Mas e sobre a questão de gênero? Ela determina ou não o voto entre as mulheres?
Para Rui Maluf, “a mulher é tão heterogênea enquanto categoria como o próprio homem, existe o peso geográfico, o grau de politização, o grupo social do qual faz parte, a renda e a escolaridade”.
Na opinião de Fernanda Feitosa, do Cfemea, a visão de uma candidata mulher ainda é secundária entre as eleitoras. “A vinculação não é automática porque as candidatas não incluem no discurso de forma concreta bandeiras do público feminino, como aborto e violência doméstica, mas falam de assuntos comuns a todos.”
Rui Maluf alerta que ter mais mulheres votando ou disputando um cargo político pode não representar, necessariamente, uma mudança no comportamento das eleitoras. “O Chile, que é um país conservador e machista, elegeu Michelle Bachelet como presidente, mas os chilenos não deixaram de ser machistas por isso”, diz ele. “O fato é que isso começa a deixar de ser uma questão de gênero, passa a ser comum ter uma presidente mulher, sem que isso faça tanta diferença.”
Leia na íntegra: Mulheres no centro das atenções (Veja.com – 29/08/2010)