Ao todo, 118 mulheres foram eleitas; na Câmara, elas, que até então ocupavam 84 assentos, conquistaram 98 das 435 cadeiras
(O Globo, 07/11/2018 – acesse no site de origem)
As eleições legislativas dos Estados Unidos levaram um recorde de mulheres eleitas aos postos de governo do país. Segundo resultados divulgados ao longo desta quarta-feira, ao menos 118 mulheres foram eleitas. Entre elas elas, 42 são negras e três são LGBTQ.
Com a apuração ainda em andamento nesta quarta-feira, sabe-se que as mulheres até o momento conquistaram 98 das 435 cadeiras da Câmara, mais do que as 84 que ocupavam antes das eleições de ontem. No Senado, ao menos 12 mulheres venceram, o que elevará o número delas na Casa para 22, segundo o Centro para a Mulher e a Política, da Universidade Rutgers. Para os cargos de governador, elas venceram em nove estados (antes eram seis).
Segundo a ABC News, o pleito também foi histórico para as candidatas de primeira viagem – algumas conseguiram conquistar cadeiras das mãos dos republicanos e ajudaram os democratas a retomar a maioria na Câmara. A vitória de mulheres ainda incrementou a diversidade no Legislativo americano, com as primeiras representantes muçulmanas e indígenas.
A rede americana CNN, que estimou a vitória de pelo menos 96 mulheres para a Câmara, projeta que cerca de um terço deste número deve ficar com candidatas que concorreram pela primeira vez. Já a ABC News destaca que 101 candidatas devem ser eleitas – 86 democratas e 15 republicanas. Até esta terça-feira, o patamar de representação feminina nos EUA era inferior ao de todas as nações europeias e menor que em muitos países latinos (México incluído) e muçulmanos (como a Arábia Saudita e Emirados Árabes).
Em sintonia com o recorde de mulheres eleitas, o pleito teve o maior número de candidatas a vagas na Câmara e no Senado. Foram 237 postulantes à Câmara (contra 167 em 2017) e 23 ao Senado, que renovou 35 de suas cadeiras (em 2012, o recorde, haviam sido 18). Até esta terça-feira, as mulheres detinham 23 vagas no Senado. As projeções indicam que 12 devem ser eleitas para esta Casa nas eleições 2018 – mas boa parte delas era candidata à reeleição.
Grupo historicamente atuante nas eleições, a participação feminina foi impulsionada por pelo menos três grandes questões nacionais: o movimento #Metoo contra o assédio, a visão de que o governo Trump é machista e o número recorde de mulheres candidatas em todo o país. A recente aprovação do nome de Brett Kavanaugh, indicado pelo presidente para a Suprema Corte mesmo acusado de assédio sexual, ajudou ainda mais no engajamento feminino.
As mulheres representaram em 2018 29% dos concorrentes à Câmara e 32% ao Senado. Em 1998, foram 131 candidatas no total, e em 1948, apenas 48. Nos estados, seis mulheres servem como governadoras, enquanto dez candidatas disputavam Executivos estaduais nesta terça-feira. O recorde foi de nove políticas à frente dos estados, em 2004.
Os americanos elegeram nesta terça-feira as duas primeiras deputadas federais muçulmanas, ambas democratas. Ilhan Omar representará o estado de Minnesota e Rashida Tlaib, Michigan. Omar, de origem somali, chegou aos Estados Unidos há duas décadas como refugiada e também é a primeira representante federal negra do estado de Minnesota. Ela vai ocupar a cadeira que era do republicano Keith Ellison, o primeiro muçulmano eleito para o Congresso, que decidiu concorrer para a Advocacia Geral de Minnesota este ano. Já Tlaib vai ocupar a cadeira antes ocupada pelo democrata John Conyers, que deixou o cargo no ano passado em meio a denúncias de assédio sexual. Ambas tiveram mais de 70% dos votos em seus distritos (no sistema eleitoral americano, cada uma das 435 cadeiras da Câmara corresponde a um distrito).
Uma das estrelas que emergiram neste ano na política americana, Alexandria Ocasio-Cortez, da ala esquerda do Partido Democrata e de origem porto-riquenha, venceu no 14º distrito de Nova York. Alexandria pertence aos Socialistas Democráticos, agrupamento inspirado na social-democracia europeia que defende saúde e educação públicas e gratuitas e o fim da polícia de fronteiras. Alexandria e outra democrata, Abby Finkenauer, eleita por Iowa, se tornaram as mais jovens deputadas eleitas no país — ambas têm 29 anos.
Os americanos também elegeram Sharice Davids e Debra Haaland. Ambas serão as primeiras congressistas americanas de origem indígena. Davids, membro da Nação Ho-Chunk, também seria o primeiro membro LGBTQ do Congresso eleito pelo estado do Kansas. Haaland é democrata do Novo México e membro da tribo Pueblo of Laguna.
Os eleitores do Texas escolheram, pela primeira vez, duas mulheres hispânicas para a Câmara dos Deputados. Veronica Escobar, por exemplo, tomou a cadeira do distrito de El Paso de Beto O’Rourke, que não se elegeu ao Senado.
A republicana Marsha Blackburn será a primeira representante mulher do Tennessee no Senado após vencer o ex-governador democrata Phil Bredesen. A conservadora atuava na Câmara dos Representantes desde 2003 e apostou em seu vínculo com o presidente Donald Trump para impulsionar a campanha. O chefe da Casa Branca esteve no estado três vezes durante a corrida eleitoral.
No Arizona, embora não haja definição da disputa, é certo que haverá a primeira senadora mulher. A democrata Kyrsten Sinema enfrenta a republicana Martha McSally pelo cargo que pertencia ao republicano Jeff Flake. Ele decidiu não se lançar à reeleição este ano.
A republicana Kristi Noem será a primeira governadora de South Dakota depois de derrotar o democrata Billie Sutton. Por outro lado, a democrata Christine Hallquist foi derrotada na disputa pelo governo de Vermont. Se vencesse, seria a primeira governadora transgênero do país.