França lança três meses de debates para combater feminicídio e violência conjugal

03 de setembro, 2019

Desde o início do ano, 101 mulheres foram vítimas de seus companheiros ou ex-companheiros, contra 121 casos registrados durante o ano de 2018.

(G1, 03/09/2019 – acesse no site de origem)

França inicia nesta terça-feira (3) um ciclo de debates de três meses sobre a violência doméstica. O fórum, intitulado “Grenelle da violência conjugal”, reúne ONGs de defesa dos direitos da mulher, especialistas de áreas multidisciplinares (polícia, justiça, família, infância) e familiares de vítimas.

Associações não governamentais evocam uma “situação de emergência” e reivindicam mais verbas para combater as agressões e o feminicídio no país.

O jornal Libération traz o número 100 na capa, enorme, em vermelho. Assim, a imprensa francesa chama a atenção para a urgência em combater o feminícidio no país. Desde o início do ano, 101 mulheres foram vítimas de seus companheiros ou ex-companheiros, contra 121 casos registrados durante o ano de 2018.

Na Europa, a França é o segundo país mais afetado pela violência conjugal depois da Alemanha. As associações que atuam no setor dando apoio às vítimas pedem um orçamento de € 500 milhões, ao invés dos € 79 milhões empenhados atualmente, para combater esse tipo de violência. Elas estimam que é necessário aumentar as vagas nos alojamentos de emergência, pedem a criação de tribunais especializados e treinamento de policiais nas delegacias para receber as queixas.

A centésima vítima de feminicídio foi uma jovem de 21 anos residente em Cagnes-sur-Mer (sul). Ela foi violentamente agredida em plena rua no último sábado (31), na entrada do prédio onde morava com seu companheiro de 26 anos.

Uma vizinha telefonou à polícia para alertar sobre o caso. Essa testemunha ocular tentou, junto com seu filho, interferir para conter o massacre, mas foi ameaçada pelo agressor. “Ele pulava em cima dela como se estivesse num trampolim”, relatou.

Quando os policiais chegaram ao local, não encontraram mais o casal. No dia seguinte, o corpo da mulher foi encontrado enrolado em um tapete sob sacos de lixo abandonados nas proximidades do prédio. O companheiro, principal suspeito, foi detido no domingo (1), mas nega a violência. Uma investigação administrativa foi aberta para apurar se houve negligência da polícia.

Poucos dias antes deste centésimo crime, no dia 28, um ato foi organizado diante da Prefeitura de Paris em memória de mulheres mortas pelos companheiros ou ex-companheiros. Uma outra ação, no dia 6 de julho, pediu “medidas rápidas e concretas” às autoridades.

Em resposta, a secretária de Estado da Igualdade entre Mulheres e Homens, Marlène Schiappa, lança hoje o grande debate nacional. A data escolhida faz referência a uma linha telefônica de emergência existente – 3919 –, criada há algum tempo para que mulheres vítimas de violência possam pedir ajuda.

Durante o ciclo de debates, autoridades de diferentes ministérios devem se reunir na sede do Ministério do Interior, junto com ONGs e familiares de vítimas, para discutir ações contra o feminicídio. Outras 91 reuniões estão programadas em toda a França, para tentar frear esse mal que a cada ano atinge cerca de 220 mil mulheres, matando mais de uma centena entre elas. A iniciativa vai durar até 25 de novembro, Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher.

Solução depende de envolvimento da sociedade

Entrevistada pelo jornal Aujourd’hui en France, a secretária de Estado Marlène Schiappa defende punições mais severas contra os agressores. “Os feminicídios só vão diminuir se toda a sociedade se implicar”, declarou ela durante um encontro na sede do jornal.

O jornal Le Figaro evoca o caso da Espanha, onde, desde 2004, uma lei de proteção foi aprovada por unanimidade pelo Parlamento. Em 2019, segundo associações espanholas, 42 mulheres morreram por causa da violência conjugal. País patriarcal, ainda sob forte influência da ditadura franquista, a Espanha começou a se conscientizar do problema em 1997. Uma mulher foi à TV falar da violência sofrida pelo marido alcoólatra. Alguns dias depois, ele cobriu o corpo dela com gasolina e a queimou viva no jardim.

Por RFI
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