Falta de dados precisos e atualizados sobre a violência sofrida pelas mulheres indígenas impede a compreensão do problema e a formulação de políticas públicas
Embora a violência de gênero seja um tema amplamente discutido na sociedade, pouco se fala sobre as agressões vivenciadas pelas mulheres indígenas, dentro e fora das aldeias. Em meio às diversas desigualdades históricas enfrentadas por esses povos, a violência contra mulheres originárias é um problema urgente e alarmante. A presença do garimpo ilegal em terras indígenas e a negligência do Estado são apenas alguns dos fatores que agravam a situação. Mas o problema não para por aí. O apagamento dessas mulheres na sociedade e a falta de dados precisos e confiáveis sobre a violência que sofrem tornam essa realidade ainda mais invisível.
Assim como acontece com a maioria das mulheres em situação de violência doméstica, as mulheres indígenas também enfrentam dificuldades para denunciar seus agressores. Isso se deve ao medo, à vergonha, ao temor de represálias por parte da família ou à falta de recursos financeiros para manter o lar na ausência do homem. As ameaças são o tipo de crime mais comumente reportado pelas mulheres adultas, enquanto que os crimes sexuais afetam principalmente as adolescentes e jovens. De acordo com levantamento realizado em 2019 pela Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres do Mato Grosso do Sul (MS), das 30 vítimas de feminicídio registradas, cinco eram mulheres indígenas. A chamada ‘terra morena’ abriga a segunda maior população indígena do país.