(Folha de São Paulo| 22/04/2021 | Djamila Ribeiro)
Na última semana, a Agência Pública, em brilhante investigação jornalística, apontou uma rede de exploração sexual infantil e de aliciamento de mulheres que teria sido comandada pelo fundador das Casas Bahia, gigante do varejo, Samuel Klein.
Baseada em fartos depoimentos, vídeos e documentos em inquéritos que nunca prosperaram na Justiça patriarcal brasileira, a reportagem da equipe de jornalismo trouxe uma história de arrepiar.
Segundo a apuração, durante décadas os abusos ocorriam em casas no litoral paulista e fluminense, bem como na sede da empresa, em um quarto acostado no gabinete do empresário que, morto em 2014, era até então de reputação gloriosa, com direito a homenagens de pessoas de diferentes polos políticos, empresários, banqueiros e jornalistas. Bustos foram feitos, seu nome batizou rua, edifícios e instituto de trabalho social junto a crianças, um triste ironia.
Samuel teria se aproveitado de seu poder econômico frente à vulnerabilidade financeira de seus alvos. Muitas ouvidas eram à época meras crianças e jovens com desejos de ter aquilo que não podem acessar por falta de condições materiais.
Djamila Ribeiro
Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.