Mesmo quando prevista por lei, a interrupção da gravidez enfrenta obstáculos. O cenário de saúde pública escancara práticas violentas contra as vítimas
(Joana Oliveira/Claudia)
Ana (nome fictício para preservar sua identidade) estava numa parada de ônibus em Fortaleza, em uma noite de domingo, após sair da igreja, quando um homem a atacou e estuprou. Ao chegar em casa, não contou nada para os pais. Até então, era virgem. “Será que eles vão acreditar em mim?”, pensava a filha única de uma família religiosa. Ana tinha 16 anos, mas aparentava 13. Quando finalmente pediu ajuda, os responsáveis acompanharam-na à delegacia, e o delegado perguntou se, na verdade, ela não teria perdido a virgindade “com algum namoradinho”. Ao fazer os exames médicos nas semanas seguintes, Ana descobriu que tinha engravidado. Começou, então, sua odisseia em busca de um hospital que realizasse o aborto legal, previsto por lei em caso de estupro no Brasil. Chegou à à 16ª semana de gravidez sem encontrar médicos que a atendessem. Dois deles alegaram objeção de consciência. O aborto só foi realizado quando ela e a mãe recorreram a uma advogada, que acompanhou-as a uma clínica, onde um médico prescreveu um fármaco abortivo. Ana sentou em uma das cadeiras do setor de obstetrícia, esperando a substância fazer efeito, enquanto ouvia o choro de bebês recém-nascidos e felicitações a mães recém-paridas. “Vivi um trauma particular no meio de gente feliz”, conta. Em nenhum momento, ela recebeu atendimento psicológico, algo também assegurado pela lei para quem tem direito ao aborto legal.
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