Relatos de violência obstétrica se multiplicam na região, com percursos que incluem rios, hospital sem equipamentos básicos e espera por vaga
Na hora do parto, Antônia perdeu o útero e o bebê, Dalva passou por um sofrimento extremo –com consequência para a saúde do filho– e Fabiula se viu dentro de uma sala vazia por uma noite inteira, até o nascimento e morte da filha na tarde do dia seguinte.
Mulheres da parte ocidental do arquipélago do Marajó, em especial de comunidades ribeirinhas da região de Melgaço (PA), a cidade com o pior IDH (índice de desenvolvimento humano) do país, são vítimas de violência obstétrica num momento que já é de vulnerabilidade.
Parece uma epidemia, com casos frequentes de mães que enfrentam jornadas pelos rios do arquipélago, longas esperas por algum atendimento digno em hospitais da região e périplos por unidades de saúde e cidades diante da desassistência na hora do parto.
A Folha conversou com quatro mulheres que relatam ter sido vítimas de violência obstétrica na região de Melgaço e identificou outros casos em unidades de saúde da região. Todas elas afirmam conhecer mulheres –irmãs, primas, vizinhas– que vivenciaram a mesma violência.