(O Globo) No livro “Bachelet en Tierra de Hombres”, da jornalista chilena Patricia Politzer – livro de cabeceira da presidenta Dilma Rousseff -, os trechos mais instigantes são os que dizem respeito ao enorme preconceito enfrentado por uma mulher no comando de um país latino-americano dominado por uma cultura machista e patriarcal.
Mulheres são mais cobradas no poder
Da mesma forma que Bachelet, Dilma Rousseff terá uma aula e tanto sobre machismo no poder. Se Bachelet trabalhava demais e pedia mais trabalho à equipe, não era considerada disciplinada; era “workaholic, pouco eficiente e má”. Se falava diretamente e com franqueza, não era um sinal de transparência, mas de “soberba e conflito na equipe”. É o que analisa Patrícia Politzer, ex-diretora da Secretaria de Comunicação e Cultura do Chile e ex-presidente do Conselho Nacional de Televisão chileno. Para a jornalista e biógrafa da ex-presidenta chilena Michelle Bachelet, os preconceitos enfrentados por Bachelet não serão muito diferentes dos que esperam Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. “Foi uma magnífica surpresa saber que a presidente Dilma está lendo meu livro. Sinto-me muito honrada”, afirmou a jornalista.
O preconceito contra Bachelet era explícito
A jornalista Patrícia Politzer, que também é observadora da política chilena desde a década de 1970, nunca tinha visto um tratamento tão absurdo e preconceituoso. “Em minha pesquisa, fui descobrindo que existia um denominador comum que cruzava praticamente todos os temas: uma cultura patriarcal que carregamos grudada na pele tanto de homens quanto de mulheres. Os preconceitos contra ela (Bachelet) – e contra as ministras mulheres de seu governo – foram explícitos e implícitos. No dia em que assumiu, uma crônica no jornal “El Mercurio”, o mais antigo do país, criticava acidamente sua ministra da Saúde, Soledad Barría, por não ter pintado seus cabelos brancos para a cerimônia! Suas atuações políticas eram analisadas sempre de uma perspectiva pessoal. “Os homens nunca sofrem uma crítica dessa natureza”.
“O machismo segue forte em nossas sociedades de tal forma que o êxito das mulheres raras vezes se atribui a seu preparo ou a seus atributos.”
Leia a entrevista completa: Dilma terá de ser forte contra o preconceito (O Globo – 31/01/2011)